Afeto e subjetivação no romance O álbum negro, de Hanif Kureishi
Résumé
Este artigo se propõe discutir a dinâmica entre afetos e subjetivação no romance O álbum negro, de Hanif Kureishi, em específico, nas perspectivas narrativas associadas ao uso de drogas ilícitas. Para sua fundamentação teórica, recorre, sobretudo, às discussões de Canguilhem (2009), Cohen (2003), Deleuze (2019), Latour (2008), Rolnik (2007, 2021) e Rose (2001). Os estudos críticos da obra destacam que na figuração de migrantes, especialmente do protagonista, Shahid, conectam-se dois quadros culturais alternativos de referência, o liberalismo e o fundamentalismo religioso islâmico. O uso de drogas ilícitas, compreendido como parte da cultura liberal britânica, apareceria como um dos pontos de equiparação destes códigos sociais, consideradas a violência, a destruição e o monoculturalismo como suas características comuns. Problematiza-se esta afirmação, a partir da suspensão do juízo moral sobre o consumo de drogas ilícitas. Rastreia-se no texto literário possibilidades de dissenso, de outras maneiras de ler a obra e o mundo. Compreende-se que para conhecer como os corpos são afetados, como as diferenças se (contra)põem, é preciso analisar suas relações constitutivas, circunstanciais, sem deter-se nas intersecções das narrativas sociais e individuais. Para isso, é necessário cartografar os circuitos inumanos em que são postos em movimento, compreender o corpo como uma rede de relações, que apreende o mundo por duas vias simultâneas e complementares, a percepção (codificada pela cultura, comunicável) e o afeto (informe, indizível). Qualquer elemento que compõem o corpo-agenciamento, a festa rave, a religião, o ecstasy, a música pop, o vinho ou a literatura, emerge como um tipo de pharmacon, veneno-remédio, a depender das disposições dos corpos, dos usos e dos contextos.
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