Reflexões teóricas sobre indicadores linguísticos não-convencionais da enunciação na clínica de linguagem
Resumen
Neste artigo, falas de crianças que receberam diagnóstico fonoaudiológico de distúrbio de linguagem são interpretadas com base em ideias de Benveniste (1988, 1989) sobre o fenômeno da enunciação. Trata-se de falas de duas crianças, retiradas de situações de diálogo registradas em contexto de terapia fonoaudiológica. Essas situações foram concebidas como cenas enunciativas primordiais, já que, por corresponderem ao presente da enunciação, permitiriam situar primeiramente a relação eu-tu. Uma vez estabelecida tal relação, permitiriam também promover a organização temporal e espacial de outros eventos enunciativos mobilizados nessas cenas. A análise das falas das crianças mostrou, porém: (i) a ausência de marcas de pessoa; (ii) a ausência de marcas de temporalidade; e (iii) a ausência de marcas de espacialidade. No entanto, essas ausências chamaram a atenção para outras marcas, não-convencionais, de inscrição das crianças em suas falas. Trata-se, fundamentalmente, de fragmentos de canções e dramatizações – formas que instituem o poético como possibilidade daquela inscrição. Contudo, se, por um lado, essas marcas cumprem a função daquelas convencionais, por outro lado, elas reduzem, na fala das crianças, todo o vivido ao tempo do (seu) presente assim instituído, mesmo que (a maior) parte do vivido não tenha se desenvolvido na cena enunciativa primordial. Além disso, transportam qualquer vivido para o espaço físico da situação enunciativa em que, da perspectiva da criança, um vivido já ocorrido é projetado como estando ocorrendo.
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