<b>O teatro atualiza a história: mediações entre o materialismo histórico de Benjamin e a peça <i>Auto dos bons tratos</i>, da Cia do Latão

Résumé

Este artigo, fundamentado no conceito do teatro épico e na relação entre literatura e processos de historicidade, tem por objetivo estudar a peça Auto dos bons tratos (2002), da Cia do Latão, grupo representativo de um contexto sócio-histórico específico de retomada do teatro épico no Brasil. A peça tematiza o processo de escravização dos índios, em 1546, pelo primeiro donatário da capitania de Porto Seguro que, marcado pela ética do trabalho capitalista, entra em uma disputa ideológica com a Igreja por ser contrário aos feriados de dia santo. Na prisão, tem uma visão a respeito da cordialidade, que indica a ele o modo ideal de se relacionar com os seus escravos e funcionários. Ao fazer menção a um fato histórico real relatado no processo movido pela Igreja Católica contra o donatário de terras, a peça revisita criticamente um acontecimento representativo da história oficial, em uma perspectiva que pode ser aproximada do materialismo histórico de Walter Benjamin. É, assim, reveladora de um momento histórico específico do processo de implantação do capitalismo em solo brasileiro e de suas consequências. Além disso, este tema é expresso formalmente por meio da apropriação crítica do auto, o que direciona também a um estudo das formas épicas.