A recusa da denegação da fome na obra de Rodolfo Teófilo: uma leitura psicanalítica
Resumo
O presente artigo discute a coalescência das intempéries naturais e sanitárias (tais como secas, tempestades e pandemias) com a má condução política das crises para a produção de catástrofes coletivas na tradição histórica brasileira. Aborda-se como os traumas sociais geralmente são denegados pela narrativa oficial, retornando, por sua vez, pela via da tradição oral e da literatura, que transmitem o testemunho de atores que, à margem do apoio do Estado, constroem caminhos para o enfrentamento das urgências, articulando soluções e mobilizando laços sociais. Rodolfo Teófilo, escritor e farmacêutico cearense que viveu no final do século XIX e início do século XX, período marcado pela fome e longas secas, é um exemplo desses atores responsáveis por tais atos de resistência popular. Seus livros e sua vida encarnam um posicionamento político diante dos acontecimentos de seu tempo. Além de se empenhar na defesa da dignidade dos flagelados da seca, que eram confinados em campos de concentração fora do perímetro urbano de Fortaleza, ele executou campanhas de vacinação da varíola que atingiram sobretudo a população mais desfavorecida. A sua obra, que ainda não recebeu a merecida atenção da crítica, mostra-se hoje mais instigante e pertinente do que nunca, haja vista que as mesmas atitudes de desrespeito e descaso com os mais vulneráveis contra as quais ele lutou pauta hoje a ação dos governantes responsáveis por criar soluções de enfrentamento da pandemia de Covid-19. A partir da psicanálise, com os conceitos de denegação e desautorização, problematiza-se os livros de Teófilo, tratando-os como a materialização de uma estética da melancolia e do testemunho de uma memória traumática. Toma-se o sertanejo como paradigma da alteridade e a fome e a seca, como uma forma de catástrofe subjetiva coletiva. Repercute-se daí o legado do escritor para o cenário político, cultural e sanitário atual.
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