Não-binariedade: uma análise neomaterialista
Résumé
Este artigo tem como objetivo analisar a linguagem não-binária segundo as próprias pessoas autoidentificadas como não-binárias e seus efeitos na constituição de práticas de si e de saberes. Para tanto, partimos da análise neomaterialista dos discursos no esforço de uma leitura intra-ativa e decolonial da não-binariedade, não restrita à língua. Metodologicamente, produzimos um corpus a partir de duas estratégias: a primeira, a criação, em 2023, de um questionário enviado a pessoas que fazem graduação da Universidade Federal de Santa Catarina e se autodesignam como NB; a segunda, a tomada de recortes de falas de uma mesa-redonda de um evento sobre linguagem inclusiva realizado, on-line, em 2023. Tendo isso em vista, inicialmente discorremos sobre nosso entendimento da não-binariedade como intra-ação material-discursiva para, então, analisarmos algumas das regularidades. De modo geral, notamos que, enquanto entre as pessoas da graduação da UFSC está presente uma exigência de visibilização pela linguagem, no evento coloca-se em xeque o papel da linguagem, do discurso e dos saberes acadêmicos na produção da binariedade, o que aponta para a relação entre variadas formas de violência, inclusive epistemológicas, por um lado, e para a demanda por invenções de si múltiplas e incorporadas das próprias pessoas que aqui ganham a cena pública e reivindicam para si mesmas outras formas de subjetividade e de corporalidade.
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