Ordens indexicais mobilizadas em projetos de lei estaduais e distrital sobre linguagem não-binária no Brasil

Resumen

Tendo em vista que discursos ocupam papel central em nossas práticas sociais, assumindo modos de fazer coisas no mundo (Derrida, 1988; Baumann & Briggs, 1990), este estudo, inspirado nos trabalhos de Barbosa Filho (2022), de Brevilheri, Lanza, e Sartorelli (2022) e de Vellasco (2024), investiga e problematiza ordens indexicais mobilizadas em Projetos de Lei em nível estadual e distrital no Brasil sobre linguagem não-binária. Para isso, foi implementada metodologicamente uma pesquisa qualitativa, com vistas à análise de ordens de indexicalidade (Blommaert, 2007), a partir de um corpus que abrigou o total de 53 propostas parlamentares em apreciação em casas legislativas do Brasil durante o período de 2019 a 2023 e que foi discutido com base em estudos críticos e transdisciplinares (Borba, 2019; Miskolci, 2021). Os resultados indicam que os textos de lei mobilizam ordens indexicais de proibição de linguagem não-binária pautadas em um conservadorismo linguístico ao proporem exclusividade no ensino gramatical escolar de norma culta da língua portuguesa. Nessa direção, alguns Projetos de Lei se assentam em justificativas de gênero, reverberando discursos atrelados à dinâmica de uma sociedade historicamente marcada por princípios moderno-coloniais e cristãos.

Descargas

La descarga de datos todavía no está disponible.

Metrics

Cargando métricas ...

Citas

Referências

Bakhtin, M. (2006). Marxismo e filosofia da linguagem (12a ed.). São Paulo, SP: Hucitec.

Barbosa Filho, F. R. (2022). Projetos de Lei contrários à “linguagem neutra” no Brasil. In F. R. Barbosa Filho & G. Á. Othero (Eds.), Linguagem “neutra”: língua e gênero em debate (p. 141-160). São Paulo, SP: Parábola.

Barbosa Filho, F. R., & Othero, G. Á. (2022). Linguagem “neutra”: língua e gênero em debate. São Paulo, SP: Parábola.

Barreno, M. I. (1985). O falso neutro: um estudo sobre a discriminação sexual no ensino. Lisboa, PT: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento.

Baumann, R., & Briggs, C. (2006). Poética e performance como perspectivas críticas sobre a linguagem e a vida social. Ilha - Revista de Antropologia, 8(1,2), 185-229.

Bertucci, P., & Zanella, A. (2020). Um guia para promover a linguagem inclusiva em Português. Diversity Consultoria de Diversidade Bbox. Recuperado de https://diversitybbox.com/um-guia-para-promover-a-linguagem-inclusiva-em-portugues/

Blommaert, J. (2007). Sociolinguistics and discourse analysis: orders of indexicality and polycentricity. Journal of Multicultural Discourses, 2(2), 115-130. DOI: https://doi.org/10.2167/md089.0

Borba, R. (2019). Gendered politics of enmity: language ideologies and social polarisation in Brazil. Gender and Language, 13(4), 423-448. DOI: https://doi.org/10.1558/genl.38416

Brasil. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. São Paulo, SP: Saraiva.

Brevilheri, U. B. L., Lanza, F., & Sartorelli, M. R. (2022). Neolinguagem e “linguagem neutra”: potencialidades inclusivas e/ou reações conservadoras. Research Society and Development, 11(11), e523111133741. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v11i11.33741

Chauí, M. (2013). Manifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro. São Paulo, SP: Fundação Perseu Abramo.

Defendi, C. L., & Rodrigues, T. (2019). Alternativas que buscam neutralizar o gênero gramatical: usos e motivações. The ESPecialist, 40(1), 1-10. DOI: https://doi.org/10.23925/2318-7115.2019v40i1a7

Derrida, J. (1988). Signature event context. In J. Derrida. Limited Inc (p. 1-23). Evanston, IL: Northwestern University Press.

Freitag, R. M. K. (2022). Conflito de regras e dominância de gênero. In F. R. Barbosa Filho & G. Á. Othero (Eds.), Linguagem “neutra”: língua e gênero em debate (p. 53-72). São Paulo, SP: Parábola.

Junqueira, R. D. (2017). “Ideologia de gênero”: a gênese de uma categoria política reacionária – ou: a promoção dos direitos humanos se tornou uma “ameaça à família natural”? In P. R. C. Ribeiro & J. C. Magalhães (Ed.), Debates contemporâneos sobre educação para a sexualidade (p. 25-52). Rio Grande, RS: FURG.

Kuhl, N. (2020, 11 nov.). Escola do Rio adota “linguagem neutra” em vocabulário: “Querides alunes”. Metrópole. Recuperado de https://www.metropoles.com/brasil/escola-do-rio-adota-linguagem-neutra-em-vocabulario-querides-alunes

Lau, H. D., & Sanches, G. J. (2019). A linguagem não-binária na língua portuguesa: possibilidades e reflexões making herstory. Revista X, 14(4), 87-106.

Lozano, C. (2021, 8 jul.). La discusión en Europa sobre el lenguaje inclusivo no ha hecho más que empezar. Aceprensa. Recuperado de https://www.aceprensa.com/sociedad/igualdad/la-discusion-en-europa-sobre-el-lenguaje-inclusivo-no-ha-hecho-mas-que-empezar/

Miskolci, R. (2021). Batalhas morais: política identitária na esfera pública técnico-midiatizada. Belo Horizonte, MG: Autêntica.

Moura, H., & Mäder, G. R. C. (2022). Reversão de gênero gramatical no português brasileiro. In F. R. Barbosa Filho & G. Á. Othero (Eds.), Linguagem “neutra”: língua e gênero em debate. (p. 37-52). São Paulo, SP: Parábola.

Possenti, S. (2022). O gênero e o gênero. In F. R. Barbosa Filho & G. Á. Othero (Eds.), Linguagem “neutra”: língua e gênero em debate (p. 17-36). São Paulo, SP: Parábola.

Projeto de Lei nº 448, de 15 de dezembro de 2020. (2020). Dispõe acerca da garantia do direito dos estudantes do estado de alagoas, da rede pública e privada, ao ensino da língua portuguesa em conformidade com a norma culta, vedação às instituições de ensino e bancas examinadoras de seleções e concursos públicos a utilização em currículos escolares e editais, da denominada linguagem neutra, em contrariedade às regras gramaticais vigentes. Maceió, AL. Recuperado de https://sapl.al.al.leg.br/media/sapl/public/materialegislativa/2020/6728/protocolo_20201215_124533.pdf

Projeto de Lei nº 2303, de 20 de setembro de 2021. (2021). Proíbe o uso de “linguagem neutra” ou “linguagem não binária” nas instituições especificadas. Brasília, DF. Recuperado de https://ple.cl.df.gov.br/#/proposicao/4359/consultar?buscar=true.

Projeto de Lei nº 1543, de 05 de julho de 2023. (2023). Proíbe a deturpação semântica do vocabulário ortográfico da língua portuguesa no âmbito do Estado de Mato Grosso e da outras providências. Cuiabá, MT. Recuperado de https://www.al.mt.gov.br/storage/webdisco/cp/20230705081604170100.pdf

Projeto de Lei nº 25001, de 26 de julho de 2023. (2023). Dispõe sobre a proibição do ensino da Ideologia de Gênero e da Teoria Queer, bem como do uso da linguagem neutra, nas escolas públicas e privadas no âmbito do Estado da Bahia. Salvador, BA. Recuperado de http://editorpaperless.alba.ba.gov.br/visualizador/publico/anexo/377733.

Schwindt, L. C. (2020). Sobre gênero neutro em português brasileiro e os limites do sistema linguístico. Revista da ABRALIN, 19(1), 1-23. DOI: https://doi.org/10.25189/rabralin.v19i1.1709

Silva, D. M., & Rezende, T. F. (2018). Desobediência linguística: por uma epistemologia liminar que rasure a normatividade da língua portuguesa. Porto das Letras, 4(1), 174-202.

Taddeo, L. (2024, 27 fev.). Governo Milei proíbe linguagem neutra em toda a administração pública. CNN Brasil. Recuperado de https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/governo-milei-proibe-linguagem-neutra-em-toda-a-administracao-publica/

Thompson, J. (2011). Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa (9a ed.). Petrópolis, RJ: Vozes.

Vellasco, B. A. (2024). Pânico moral e higienismo verbal: a rede metadiscursiva sobre ‘linguagem neutra’ no Brasil (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Goiás, Goiânia.

Publicado
2024-12-02
Cómo citar
Frank, H., & Coelho, M. V. S. (2024). Ordens indexicais mobilizadas em projetos de lei estaduais e distrital sobre linguagem não-binária no Brasil . Acta Scientiarum. Language and Culture, 46(2), e71960. https://doi.org/10.4025/actascilangcult.v46i2.71960
Sección
Dossiê Linguística - "A emergência de gênero não-binário na América Latina"

 

0.1
2019CiteScore
 
 
45th percentile
Powered by  Scopus

 

 

0.1
2019CiteScore
 
 
45th percentile
Powered by  Scopus