O mundo medieval no cordel: o mito judaico-cristão do Judeu Errante na poesia popular de Manoel Pereira Sobrinho
Resumen
O mito do Judeu Errante remonta à Idade Média e se proliferou pela oralidade e pela escrita, sempre na direção do ódio aos judeus. O mito passou aparecer com recorrência em gêneros artísticos variados; mas assumiu uma perspectiva mais próxima da medieval ao entrar na literatura de cordel. A relação desse mito com tal gênero permeia o objeto de estudo deste texto, que apresenta uma reflexão literário-histórica com o objetivo de se reconhecerem a permanência do mito do Judeu Errante e sua difusão no Brasil. O estudo propõe uma leitura analítico-interpretativa da obra O judeu errante, de Manoel Pereira Sobrinho (1958). O estudo se desenvolveu na interseção da teoria da literatura com a história cultural guiado pela premissa de que a literatura pode representar a forma como as pessoas pensavam no mundo, em si, em seus valores, preconceitos, medos etc. Assim, a obra literária se projeta como fonte histórica privilegiada à compreensão do universo simbólico do mito em formas literárias, sem as quais sua permanência e circulação seculares seriam incertas. Igualmente ao mito, a literatura de cordel remonta à Ibéria da Idade Média e explora temas que entraram no repertório conceitual incorporado ao mito do Judeu Errante desde os tempos medievais. É o caso da abordagem com foco na usura e no deicídio, que traz à tona a imagem de errância do personagem na literatura brasileira. Tal literatura se inscreve na produção de poetas do Nordeste com uma representação do Judeu Errante que molda a construção do imaginário do cordelista, tradutor da cultura popular e da tradição estético-temática. Portanto, a poesia considerada como objeto de análise neste estudo se engendra como elemento significativo da nacionalidade: da cultura, da memória e da identidade de um povo.
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