Cultura histórica, usos do passado e os desafios do ensino e da aprendizagem em contextos escolares e não escolares
Apresentação
A Revista Diálogos, Universidade Estadual de Maringá do Programa de Pós-Graduação em História UEM - PPH em Maringá-PR, Brasil, convida para o Dossiê monográfico intitulado: Cultura histórica, usos do passado e os desafios do ensino e da aprendizagem em contextos escolares e não escolares.
A proposta deste dossiê baseia-se em dois pressupostos interdependentes. Primeiro, o ensino e a aprendizagem da História não se restringem aos espaços escolares formais, mas também ocorrem em ambientes não formais, como lugares públicos, praças, museus e comunidades (GREVER; ADRIAANSEN, 2017). Segundo, ensinar e aprender História envolve não apenas os conteúdos tradicionalmente transmitidos em sala de aula por meio de materiais didáticos ou pela exposição dos professores, mas também inclui ideias, saberes, memórias coletivas e múltiplas e narrativas que formam a base da cultura histórica da sociedade (RÜSEN, 2012), e facilitam o desenvolvimento do pensamento crítico a partir do conhecimento histórico (EPSTEIN; PECK, 2018) (LÉVESQUE; CROTEAU, 2020).
Ensinar História no tempo presente exige a compreensão de que vivemos em um período desafiador, caracterizado pela ascensão de projetos políticos populistas conservadores que revelam comportamentos e atitudes autoritárias e neofascistas por parte de seus adeptos, com reflexos na educação. Além disso, nas mídias sociais e digitais (a transmídia: MUÑOZ-MUÑOZ; ORTUNO-MOLINA; MOLINA-PUCHE, 2024), prolifera ampla produção de conteúdo sobre temáticas históricas que, muitas vezes, serve à propagação de narrativas revisionistas e negacionistas, visando descredibilizar a historiografia produzida por historiadores (BONETE; MANKE, 2023). Portanto, ensinar História, em contextos formais e não formais, é atuar na linha de frente da resistência contra a desinformação, as fake news e os negacionismos históricos e científicos, apostando nas potencialidades transformadoras e reflexivas do conhecimento histórico (NAPOLITANO, 2021). Assim, este dossiê busca fomentar um diálogo crítico e reflexivo no sentido de promover a resistência contra a desinformação e a construção de uma sociedade mais próxima da ciência histórica (PALMA VALENZUELA, 2020).
As considerações aqui elencadas constituem o enfoque dos artigos que pretendemos captar para a composição desse dossiê, cujos objetivos são:
- refletir sobre as diferentes implicações dos usos do passado no ensino e na aprendizagem histórica em contextos escolares e não escolares;
- identificar as intersecções entre cultura histórica e ensino História nos espaços públicos;
- discutir as relações com a cultura escolar e formação das identidades e consciência histórica;
- pensar como os conteúdos com temáticas históricas produzidas no âmbito das mídias sociais e digitais impactam o trabalho docente;
- debater a produção e a circulação de saberes históricos em diálogos com a cultura histórica, cultura escolar, a cultura digital e a divulgação científica.
A presença de ideias pseudo-históricas e anticientíficas, frequentemente amplificadas por meio das mídias sociais e outras plataformas digitais, representa um desafio significativo para a educação histórica. Essas narrativas tendem a simplificar, distorcer ou manipular fatos históricos para atender a agendas ideológicas específicas, contribuindo para a formação de concepções errôneas e prejudiciais sobre o passado. Portanto, é essencial que os educadores e pesquisadores se engajem ativamente na identificação e análise dessas ideias, compreendendo suas origens, motivações e os mecanismos pelos quais são disseminadas.
A comunidade acadêmica e os educadores devem se posicionar como defensores ativos do conhecimento histórico baseado em evidências, participando de debates públicos e utilizando diversas plataformas para disseminar informações precisas e contextualizadas. A promoção de um diálogo crítico e informado sobre o passado é essencial para fortalecer a consciência histórica e contribuir para a formação de uma cidadania engajada.
Nesse sentido, ao justificarmos a proposição desse dossiê, objetivamos contribuir com a formação de sujeitos que possam exercer o papel de cidadãos responsáveis, bem-informados e capazes de problematizar a realidade, considerando a disseminação de ideias históricas problemáticas no contexto atual. Em uma sociedade onde circulam amplamente ideias pseudo ou anticientíficas, a discussão sobre a usos e abusos do passado, em contextos escolares e não-escolares, torna-se uma urgência social.
Organizadores
Dr. Wilian Junior Bonete (UFPel, Brasil)
http://lattes.cnpq.br/7339543110127451
https://orcid.org/0000-0003-0971-4192
Drª. Márcia Elisa Teté Ramos (UEM, Brasil)
http://lattes.cnpq.br/8930281888608344
https://orcid.org/0000-0001-5299-2935
Dr. Sebastián Molina Puche (UM, Espanha)
http://murcia.academia.edu/SebastiánMolinaPuche
https://orcid.org/0000-0003-1469-2100
SUBMISSÕES
Os artigos devem ser apresentados na secção Dossiê. As diretrizes para os autores e as normas para submissão e publicação encontram-se na página online da revista, que pode ser acessada pelos links abaixo. Pedimos, gentilmente, que leiam com atenção as seções antes de submeterem os textos.
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/about/submissions#authorGuidelines
PRAZO PARA OS ENVIOS
Início: 01 de junho de 2025
Final: 31 de julho de 2025
Referências
BONETE, Wilian Junior; MANKE, Lisiane Sias. Sobre os sentidos e os efeitos do passado no presente: a presença da temática nazista em uma conversa no episódio 545 do programa Flow Podcast. Revista Aedos, v. 15, n. 34, 2023.
EPSTEIN, Terrie; PECK, Carla L. Introduction. In EPSTEIN, Terrie; PECK, Carla L. (eds.). Teaching and learning difficult histories in international context. A critical sociocultural approach. Routledge, 2018. https://www.routledge.com/Teaching-and-Learning-Difficult-Histories-in-International-Contexts-A-Critical-Sociocultural-Approach/Epstein-Peck/p/book/9780367887537
GREVER, Maria; ADRIAANSEN, Robbert-Jan. Historical culture: A concept revisited. Palgrave handbook of research in historical culture and education, p. 73-89, 2017.
LÉVESQUE, Stéphane; CROTEAU, Jean-Philippe. Beyond history for historical consciousness: Students, narrative, and memory. University of Toronto Press, 2020.
MUÑOZ-MUÑOZ, Pablo; ORTUNO-MOLINA, Jorge; MOLINA-PUCHE, Sebastian. The influence of transmedia and extra-academic narratives on the formation of the historical culture of high school students. In: Frontiers in Education. Frontiers Media SA, 2024. p. 1295500. doi: 10.3389/feduc.2023.1295500
NAPOLITANO, Marcos. Negacionismo e Revisionismo histórico no século XXI. PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. Novos combates pela história: Desafios-Ensino. São Paulo: Contexto, p. 85-114, 2021.
RÜSEN, Jörn. Forming historical consciousness–Towards a humanistic history didactics. Antíteses, v. 5, n. 10, p. 519-536, 2012. https://www.redalyc.org/pdf/1933/193325796002.pdf
RAMOS, Márcia Elisa Teté. Considerações sobre a construção da história escrita, ensinada e divulgada através da matriz disciplinar de Jörn Rüsen. Diálogos. Maringá, v. 22, n. 3, 2018. https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/45349
PALMA VALENZUELA, Andrés et al. Enseñar Ciencias Sociales entre riesgos e incertidumbres. Didácticas Específicas, 22, p. 88–103, 2020. https://doi.org/10.15366/didacticas2020.22.006