A transferência do poder no império romano: a sucessão de Nerva por Trajano

Resumo

O problema da questão sucessória durante o Alto Império romano chama-nos a atenção, sobretudo, pelo fato de que no período as mudanças dos césares acarretaram não só distúrbios políticos e conflitos militares, elas impuseram também problemas de legitimação que buscaram respaldo nas instituições tradicionais por conta da escassez de mecanismos jurídicos que as amparassem. No caso analisado neste artigo, a partir do estudo do Panegírico de Trajano de Plínio, o Jovem, com o auxílio de uma análise comparativa dos casos da sucessão de Augusto por Tibério e da tentativa de sucessão de Galba por Pisão Liciniano, percebemos que o sucesso de uma solução pacífica obtida através da passagem do poder de Nerva a Trajano por meio da adoção simbolizou o abandono de dois recursos, o dinástico tradicional, e o restrito à aristocracia de Roma e introduziu a opção da escolha do governante para além das fronteiras da Itália. Assim a presença de Trajano como primeiro provincial a tornar-se imperador representou a renúncia de um sistema que reservava o poder aos indivíduos do centro do império e também o fortalecimento político de camadas mais vastas das populações que viviam sob a égide de Roma.