Crítica à visão ‘apocalíptica’ Anarcopunk

  • Alexander Martins Vianna UFRRJ
Palavras-chave: Anarcopunk, Análise Social dos Modelos Culturais, Identidade

Resumo

Neste artigo, analiso a forma como aparecia o emprego do termo “punk” nos discursos dos anarcopunks do Rio de Janeiro em 1994-1995. Assim, pude constatar duas nuances: as expressões podiam variar desde uma matriz mais substantivada (definidora de uma forma de vestir, falar e comportar-se) até uma mais adjetivada (ser punk se torna um modulador de tom em relação a uma ideologia conscientemente apregoada pelo grupo, por exemplo: ser anarcopunk é ser anarquista de uma forma mais “essencialmente libertária”). Entretanto, no centro da escala semântica estava o compromisso ético de não ceder à padronização do consumo e às formas de representatividade política oferecidas na sociedade atual. Além disso, analisar a lógica cultural dos discursos identitários dos anarcopunks do Rio de Janeiro conduziu-me para uma questão de método: não há “punk” no singular, pois cada grupo ou indivíduo que se auto-intitula punk tem uma perspectiva singular sobre o que é “ser punk”. Assim, em vez de simplesmente descrever o seu discurso identitário e situá-lo superficialmente num “quadro social” ou num “quadro cultural”, busquei entender como era possível um grupo de jovens imaginar construir um paradigma identitário underground intocado pelo “sistema”. Por fim, demonstro que a mutabilidade – condição para uma suposta manutenção do punk como underground – tornava-o, na verdade, groundless. Ao chegar a tal conclusão, eu pude então demonstrar que a sua sociodinâmica identitária era análoga à lógica cultural de produção e consumo do capitalismo flexível.

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Biografia do Autor

Alexander Martins Vianna, UFRRJ
Possui graduação em História pela UFRJ. É mestre e doutor em História Social pelo PPGHIS-UFRJ. As suas áreas preferenciais de atuação são: História Moderna e Contemporânea, História do Pensamento Político e Teoria e Metodologia em História. Em História Moderna, trabalha basicamente com as ferramentas analíticas da História Social da Cultura, com ênfase temática em concepções e práticas políticas, cultura letrada cortesã, lógicas institucionais e dinâmicas de distinção social do Antigo Regime. Deve-se destacar também que o pesquisador vem desenvolvendo um cuidadoso trabalho a respeito dos tropismos protestantes contra a idolatria nas peças teatrais shakespeareanas. Em História Contemporânea, interessa-se principalmente pelas questões relativas à crise e à crítica do universalismo civilizador ocidental que, no mundo pós-Guerra Fria, adquiriram um teor marcadamente essencializante da cultura, que se manifesta tanto na forma de se justificar a afirmação agressiva de fronteiras sociais, políticas e institucionais quanto na forma de se criar modelos de interpretação de áreas geopolíticas. Em Teoria e Metodologia da História, o pesquisador tem interesse na análise da virada crítica da História Social Francesa através da micro-história barthiana e da história social dos modelos culturais, tendo como parâmetro de enquadramento institucional deste debate a revista Annales (ESC e HSS) das décadas de 1980 e 1990.
Publicado
2009-12-29
Como Citar
Vianna, A. M. (2009). Crítica à visão ‘apocalíptica’ Anarcopunk. Revista Espaço Acadêmico, 9(104), 38-45. Recuperado de https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8132