O ESTRANHO COMO CATEGORIA POLÍTICA: PSICANÁLISE, TEORIA QUEER E AS EXPERIÊNCIAS DE INDETERMINAÇÃO
Resumo
Judith Butler se apropria de vários conceitos da psicanálise, mas não explora o estranho (Unheimliche) freudiano. Trata-se, aqui, de investigar a função política desse conceito, considerando que a norma o converte em abjeção, como em casos de homofobia e transfobia. No encontro entre um sujeito cujo semblante sexuado é estruturado dentro da hegemonia heterossexual e um sujeito com semblante abjeto, o primeiro espera ver i(a), um outro-espelho de sua imagem narcísica, mas se defronta com a, o estranho abismo do desejo do Outro. Com Lacan, esse Unheimliche é produtor de angústia no eu do sujeito, o que faz vacilar suas identificações em uma experiência de indeterminação. Porém, nossas formas de vida sustentam ficções identitárias demasiado rígidas, que convertem essa angústia do indeterminado em medo e violência. Em certos casos de homofobia e transfobia, um sujeito com semblante normalizado vivencia de maneira improdutiva a ameaça de dissolução do seu eu frente a um estranho que é tido como abjeto, inumano, monstruoso. Torna-se crucial pensar formas de vida em que experiências de indeterminação possam ser vividas de maneira produtiva, em que identificações sejam mais porosas em relação àquilo que não se reduz à forma determinada de um eu.
Downloads
Referências
Butler, J. (2015). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade (9ª ed.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. (Original publicado em 1990).
Butler, J. (1993). Bodies that matter: on the discursive limits of “sex”. New York: Routledge.
Butler, J. (2015). Relatar a si mesmo. Belo Horizonte: Autêntica Editora. (Original publicado em 2005).
Butler, J. (2009/2016). Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? (2ª ed.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Freud, S. (2010). O inquietante. In: S. Freud, Obras completas (vol. 14) (pp. 328-376). São Paulo: Companhia das Letras. (Original publicado em 1919).
Freud, S. (2014). Inibição, sintoma e angústia. In: S. Freud, Obras completas (vol. 17) (pp. 13-123). São Paulo: Companhia das Letras. (Original publicado em 1926).
Knudsen, P. P. P. da S. (2010). Conversando sobre psicanálise: entrevista com Judith Butler. Estudos Feministas, 18(1), 161-170, jan.-abr./2010.
Lacan, J. (2005a). O simbólico, o imaginário e o real. In: J. Lacan, Nomes-do-Pai (pp. 9-54). Rio de Janeiro: Zahar. (Original proferido em 1953).
Lacan, J. (2009). O Seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud (2ª ed.). Rio de Janeiro: Zahar. (Original proferido em 1953-54).
Lacan, J. (2005b). O Seminário, livro 10: a angústia. Rio de Janeiro: Zahar. (Original proferido em 1962-63).
Safatle, V. (2012). Grande hotel abismo: por uma reconstrução da teoria do reconhecimento. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.
Safatle, V. (2016). O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo (2ª ed.). Belo Horizonte: Autêntica Editora.
As opiniões emitidas, são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). Ao submeterem o manuscrito ao Conselho Editorial de Psicologia em Estudo, o(s) autor(es) assume(m) a responsabilidade de não ter previamente publicado ou submetido o mesmo manuscrito por outro periódico. Em caso de autoria múltipla, o manuscrito deve vir acompanhado de autorização assinada por todos os autores. Artigos aceitos para publicação passam a ser propriedade da revista, podendo ser remixados e reaproveitados conforme prevê a licença Creative Commons CC-BY.
The opinions expressed are the sole responsibility of the author (s). When submitting the manuscript to the Editorial Board of Study Psychology, the author (s) assumes responsibility for not having previously published or submitted the same manuscript by another journal. In case of multiple authorship, the manuscript must be accompanied by an authorization signed by all authors. Articles accepted for publication become the property of the journal, and can be remixed and reused as provided for in theby a license Creative Commons CC-BY.