MEDICALIZAÇÃO, DISLEXIA E TDA/H NO ENSINO SUPERIOR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL

  • Thais de Sousa Rodrigues Universidade Federal de Uberlândia
  • Silvia Maria Cintra da Silva Universidade Federal de Uberlândia
Palavras-chave: Medicalização, ensino superior, teoria histórico-cultural.

Resumo

Entende-se por medicalização o processo pelo qual situações cotidianas são individualizadas e transformadas em problemas médicos. O ensino superior tem sido alvo de práticas medicalizantes, principalmente em relação ao Transtorno de Déficit de Atenção com/sem Hiperatividade (TDA/H) e dislexia, uma vez que não existe um consenso sobre a existência destes supostos transtornos. Desta forma, esta pesquisa teve como objetivo conhecer e analisar os laudos de dislexia e TDA/H utilizados para o ingresso no ensino superior a partir das contribuições da Teoria Histórico-Cultural. Neste estudo, foi realizado um levantamento dos laudos nos anos de 2003 a 2016 apresentados por candidatos junto ao setor responsável pelos processos seletivos da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Foram elencados 809 requerimentos, em que 96 candidatos tinham laudos de dislexia e/ou TDA/H, sendo 42 do sexo feminino e 54 do masculino, 34 destes com intenção para o curso de medicina. O número de requerimentos aumentou de 2003 para 2016, assim como o uso de medicamentos, sendo que 32 candidatos comprovam o uso do composto cloridrato de metilfenidato. Neste sentido, perguntamo-nos se os diagnósticos e fármacos têm sido utilizados para facilitar o ingresso ao ensino superior. Além disso, é imprescindível que o atendimento especial a candidatos com laudos de dislexia e TDA/H seja repensado e tais pseudodiagnósticos desconstruídos, uma vez que culminam na proliferação de laudos, aumento do consumo de fármacos e, consequentemente, contribuem para o processo de medicalização da vida.

 

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Biografia do Autor

Thais de Sousa Rodrigues, Universidade Federal de Uberlândia
Psicóloga e Mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia. Atua como psicóloga escolar na Prefeitura Municipal de Araguari.
Silvia Maria Cintra da Silva, Universidade Federal de Uberlândia
Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1990), mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1993) e doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2002). Realizou pós-doutorado na USP, no Programa de Pós Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (2007). Professora Titular da Universidade Federal de Uberlândia, ministra aulas na graduação e no mestrado do Instituto de Psicologia e supervisiona estágio na área de Psicologia Escolar. Foi coordenadora do Curso de Graduação em Psicologia. Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia. Ocupou o cargo de Presidente Atual da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) (gestão 2014-2016) e é a atual 1a. Secretária (gestão 2018-2020). Editora da Revista Psicologia Escolar e Educacional. Participa do GT de Psicologia e Políticas Educacionais da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP. Temas de interesse: psicologia escolar, formação e atuação do psicólogo escolar e arte.

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Publicado
2021-07-19
Como Citar
Rodrigues, T. de S., & Silva, S. M. C. da. (2021). MEDICALIZAÇÃO, DISLEXIA E TDA/H NO ENSINO SUPERIOR: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL. Psicologia Em Estudo, 26. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v26i0.46549
Seção
Artigos originais

 

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