A FUNÇÃO CONSTITUTIVA DA VOZ E O PODER DA MÚSICA NO TRATAMENTO DO AUTISMO
Resumo
O artigo parte de uma experiência de pesquisa sobre o tratamento psicanalítico em grupo de crianças autistas, para refletir acerca da presença de mais de um analista no setting. A interação entre os analistas favorece uma abordagem não diretiva, permitindo à criança que ela se aproxime espontaneamente, sem ser forçada a um contato que pode ser sentido como extremamente angustiante pelo autista. Ademais, constatam-se os efeitos da voz como suporte para os próprios interventores, que dialogam, brincam e cantam entre eles, suscitando uma animação libidinal capaz de mobilizar a criança autista. A música que circula nas brincadeiras de roda veicula tanto aspectos simbólicos da cultura quanto o real do gozo de alíngua. Em um caso particular, a prosódia do canto mostrou-se uma forma imaginária específica de tratar a dimensão real da voz que invade o sujeito autista. Servindo-se de canções populares como objetos de mediação, foi possível orientar o tratamento a partir de uma solução que veio do próprio sujeito, que, antecipado neste ato, pode ouvir a invocação para advir. Evidencia-se assim, também no autismo, o papel do objeto pulsional voz para a constituição subjetiva.
Downloads
Referências
CALZAVARA, M. G. P. & VORCARO, A. (2018). Efeitos da incidência da linguagem no corpo do sujeito autista. Tempo Psicanalítico, 50(2), 31-50. Disponível em http://revista.spid.com.br/index.php/tempopsicanalitico/article/view/408/pdf_132
CATÃO, I. & VIVÈS, J.-M. (2011). Sobre a escolha do sujeito autista: voz e autismo. Estudos de Psicanálise, (36), 83-92. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372011000300007
CORIAT, E. (1997). A psicanálise na clínica de bebês e crianças pequenas. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios.
DI CIACCIA, A. (2005). A prática entre vários. In M. M. Lima & S. Altoé (Orgs). Psicanálise, clínica e instituição. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos
FERREIRA, T. & VORCARO, A. (2017). Tratamento psicanalítico de crianças autistas: diálogo com múltiplas experiências. Belo Horizonte: Autêntica.
JERUSALINSKY, J. (2014). A criação da criança: brincar, gozo e fala entre a mãe e o bebê. Salvador, BA: Agalma.
JERUSALINSKY, J. (2015). A criança exilada da condição de falante. In A. Jerusalinsky (Org.). Dossiê Autismo. (pp. 22-51). São Paulo: Instituto Langage.
LACAN, J. (1985). O Seminário, livro 2: o eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (1954-55). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
LACAN, J. (1998). A direção do tratamento e princípios do seu poder. In Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1958).
LACAN, J. (2003). A ciência e a verdade. In Outros Escritos. Rio de Janeiro: Zahar. (Trabalho original publicado em 1973).
LACAN, J. (2007). Seminário 23: o sinthoma (1975-76). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
LAZNIK, M.-C. (2000). A voz como primeiro objeto da pulsão oral. Estilos da Clínica, 5(8), 80-93.
LAZNIK, M.-C. (2011). Rumo à fala: três crianças autistas em psicanálise. Rio de Janeiro: Companhia de Freud.
LIMA, T. M. T. & LERNER, R. (2016). Contribuições da noção de pulsão invocante à clínica do autismo e da psicose. Revista Latinoamericana de Psicopatatologia Fundamental,19(4). Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-47142016000400720&script=sci_arttext
MACHADO, A. M. (2018). Abrindo caminho. São Paulo: Ática.
MALEVAL, J.-C. (2015). Por que a hipótese de uma estrutura autística. Opção lacaniana online, ano 6, (18). Disponível em http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_18/Por_que_a_hipotese_de_uma_estrutura_autistica.pdf
ORRADO, I. (2017). La médiation artistique: L’accueil du public en situation de handicap. Psychothérapies, 37(3), 153-160. Disponível em https://www.cairn.info/article.php?ID_ARTICLE=PSYS_173_0153&contenu=article
SIBEMBERG, N. (2015). Atenção com o diagnóstico: a suspeita de autismo nem sempre se confirma. In A. Jerusalinsky (Org.). Dossiê Autismo. (pp. 22-51). São Paulo: Instituto Langage.
VIVÈS, J.-M. (2009). Para introduzir a questão da pulsão invocante. Revista Latinoamericana de Psicopatatologia Fundamental, 12(2), 329-341. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142009000200007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
VORCARO, A. (1999). Crianças na psicanálise: clínica, instituição, laço social. Rio de Janeiro: Companhia de Freud.
Copyright (c) 2021 Psicologia em Estudo

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
As opiniões emitidas, são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). Ao submeterem o manuscrito ao Conselho Editorial de Psicologia em Estudo, o(s) autor(es) assume(m) a responsabilidade de não ter previamente publicado ou submetido o mesmo manuscrito por outro periódico. Em caso de autoria múltipla, o manuscrito deve vir acompanhado de autorização assinada por todos os autores. Artigos aceitos para publicação passam a ser propriedade da revista, podendo ser remixados e reaproveitados conforme prevê a licença Creative Commons CC-BY.
The opinions expressed are the sole responsibility of the author (s). When submitting the manuscript to the Editorial Board of Study Psychology, the author (s) assumes responsibility for not having previously published or submitted the same manuscript by another journal. In case of multiple authorship, the manuscript must be accompanied by an authorization signed by all authors. Articles accepted for publication become the property of the journal, and can be remixed and reused as provided for in theby a license Creative Commons CC-BY.