ENSINO, CUIDADO E SUBJETIVIDADE NO CAMPO DA MEDICINA: UM ESTUDO DE CASO
um Estudo de Caso
Resumo
Considerando as atuais dificuldades enfrentadas em serviços de saúde mental e suas possíveis relações com a formação de profissionais de saúde, este artigo visa discutir como o ensino de medicina foi configurado subjetivamente por uma estudante universitária e as possíveis relações desse processo com alguns dos atuais desafios da reforma psiquiátrica brasileira. Este trabalho baseou-se num estudo de caso realizado ao longo de quatro meses com uma estudante de medicina de uma faculdade pública do Distrito Federal, onde se faz uso de metodologias ativas de aprendizagem. Foram utilizadas como referenciais a Teoria da Subjetividade, a Epistemologia Qualitativa e a metodologia construtivo-interpretativa de González Rey. Os resultados da pesquisa apontam para a organização de uma subjetividade social do ensino de medicina marcada por processos relacionados ao modelo biomédico, apesar das mudanças institucionais que visam promover um ensino pautado num modelo de atenção biopsicossocial. A participante expressa uma configuração subjetiva em que o cuidado articula-se ao controle e à medicalização, cujo desenvolvimento parece ter sido favorecido pela subjetividade social de seu contexto de ensino. Além disso, pode-se dizer que a subjetividade social do ensino de medicina está possivelmente relacionada a uma subjetividade social manicomial, ainda presente em serviços substitutivos, como os Centros de Atenção Psicossocial, dificultando as mudanças propostas pela reforma psiquiátrica. Por fim, este trabalho enfatiza o caráter subjetivo da aprendizagem, por meio do qual se articulam processos relacionados a diferentes âmbitos de vida da pessoa, como o educacional, o familiar e o cultural.
Downloads
Referências
Amarante, P. (2017). Teoria e crítica em saúde mental (2a ed.). São Paulo: Zagodoni.
Daltro, M. R., Jesus, M. L. S. de, Bôas, L. M. V. & Castelar, M. (2018). Ensino da psicologia em cursos de medicina no Brasil. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 70(2), 38-48.
Ferraz, L., Plato, A. L. S., Anzolin, V., Matter, G. R., & Busato, M. A. (2018). Substâncias psicoativas: o consumo entre acadêmicos de uma universidade do sul do Brasil. Revista Momento, 27(1), 371-386. https://doi.org/10.14295/momento.v27i1.6850
Figueiredo, F. P., Bernuci, M. P., Oliveira, R. G. de, Ideriha, N. M., Massuda, E. M., & Yamaguchi, M. U. (2019). A trajetória de implantação de um internato de Saúde Mental em uma instituição de ensino superior. Interface (Botucatu), 23(supl. 1), 1-12. https://doi.org/10.1590/interface.170898
Fourez, G. (1995). A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética das ciências. São Paulo: Fundação Editora da UNESP.
França, R. R., Jr., & Maknamara, M. (2019). A literatura sobre metodologias ativas em educação médica no Brasil: notas para uma reflexão crítica. Trabalho, Educação & Saúde, 17(1), 1-22. https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00182
Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido (17a ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.
González Rey, L. F. (2001). A pesquisa e o tema da subjetividade em educação. Psicologia da educação, 13.
González Rey, L. F. (2012a). A configuração subjetiva dos processos psíquicos: avançando na compreensão da aprendizagem como produção subjetiva. In A. Mitjáns Martínez, B. Soz, & M. Castanho (Orgs.), Ensino e aprendizagem: a subjetividade em foco (pp. 21-42). Brasília: Liber Livros.
González Rey, L. F. (2012b). O social na psicologia e a psicologia social: a emergência do sujeito. Petrópolis: Vozes.
González Rey, L. F. (2014). O sujeito que aprende: desafios no desenvolvimento do tema da aprendizagem na psicologia e na prática pedagógica. In M. C. Tacca (Org.), Aprendizagem e trabalho pedagógico (pp. 29-44). São Paulo: Alínea.
González Rey, L. F. (2015). A saúde na trama complexa da cultura, das instituições e da subjetividade. In L. F. González Rey, & J. Bizerril (Orgs.), Saúde, cultura e subjetividade (pp. 9-34). Brasília: UniCeub.
González Rey, L. F. (2019). Methodological and epistemological demands in advancing the study of subjectivity from a cultural-historical standpoint. Culture & Psychology, 0(0), 1-16.
González Rey, L. F., & Mitjáns Martínez, A. (2017). Subjetividade – teoria, epistemologia e método. Campinas: Alínea Editora.
Goulart, D. M. (2019). Saúde mental, desenvolvimento e subjetividade: da patologização à ética do sujeito. São Paulo: Cortez.
Goulart, D. M., & González Rey, L. F. (2016). Cultura, educación y salud: una propuesta de articulación teórica desde la perspectiva de la subjetividad. Revista Epistemología, Psicología y Ciencias Sociales, 1(1), 17-32.
Goulart, D. M., González Rey, L. F., & Torres, J. F. P. (2019). El estudio de la subjetividad de profesionales de la salud mental: una experiencia en Brasilia. Athenea Digital, 19(3), 1-21. https://doi.org/10.5565/rev/athenea.2548
Lobosque, A. M. (2007). Um desafio à formação: nem a fuga da teoria, nem a recusa da invenção. In A. M. Lobosque (Org.), Caderno de Saúde Mental (Vol. 1, pp. 33-44). Belo Horizonte: ESP-MG.
Macedo, K. D. S., Acosta, B. S., Silva, E. B. da, Souza, N. S. de, Beck, C. L. C., & Silva, K. K. D. da (2018). Metodologias Ativas de Aprendizagem: caminhos possíveis para inovação no ensino em saúde. Escola Anna Nery, 22(3). https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2017-0435
Machado, L., & Lavrador, M. C. (2001). Loucura e Subjetividade. In L. Machado, M. C. Lavrador, & M. E. Barros (Orgs.), Texturas da Psicologia (pp. 45-58). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Merhy, E. (2010). Desafios de desaprendizagens no trabalho em Saúde: em busca de anômalos. In A. M. Lobosque (Org.), Caderno de Saúde Mental (Vol. 3, pp. 23-36). Belo Horizonte: ESP-MG.
Muniz, L. S., & Mitjáns Martínez, A. (2015). A expressão da criatividade na aprendizagem da leitura e da escrita: um estudo de caso. Revista Educação e Pesquisa, 41(4), 1039-1054. https://doi.org/10.1590/s1517-97022015041888
Ornellas, C. (2007). Por uma reforma psiquiátrica antimanicomial: desafios e impasses atuais. In A. M. Lobosque (Org.), Caderno de Saúde Mental (Vol. 1, pp. 109-114). Belo Horizonte: ESP-MG.
Prevedello, A., Segato, G., & Emerick, L. (2017). Metodologias de Ensino nas Escolas de Medicina e da Formação Médica Atual. Revista Educação, Cultura e Sociedade, 7(2), 566-577.
Rotelli, F. (2014). Superando o Manicômio: o circuito psiquiátrico de Trieste. In P. Amarante (Org.), Psiquiatria Social e Reforma Psiquiátrica (pp. 149-170). Rio de Janeiro: Fiocruz.
Rotelli, F., Leonardis, O., & Mauri, D. (2001). Desinstitucionalização, uma outra via. In F. Nicácio (Org.), Desinstitucionalização (pp. 17-60). São Paulo: Hucitec.
Silva, L. A., Muhl, C., & Moliani, M. M. (2015). Ensino Médico e Humanização: análise a partir dos currículos de cursos de medicina. Psicologia Argumento, 33(80), 298-309. http://dx.doi.org/10.7213/psicol.argum.33.080.AO06
Taquette, S. R., & Villela, W. V. (2017). Balizas do conhecimento: análise das instruções aos autores das revistas brasileiras da área de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 22(1), 7-13. https://doi.org/10.1590/1413-81232017221.24302016
Villardi, M. L., & Cyrino, E. G. (2018). Inovações Pedagógicas no Ensino Superior: a problematização e o portfólio na formação de pedagogos. Revista de Estudos Aplicados em Educação, 3(6), 16-28. https://doi.org/10.13037/rea-e.vol3n6.5412
Copyright (c) 2022 Psicologia em Estudo

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
As opiniões emitidas, são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). Ao submeterem o manuscrito ao Conselho Editorial de Psicologia em Estudo, o(s) autor(es) assume(m) a responsabilidade de não ter previamente publicado ou submetido o mesmo manuscrito por outro periódico. Em caso de autoria múltipla, o manuscrito deve vir acompanhado de autorização assinada por todos os autores. Artigos aceitos para publicação passam a ser propriedade da revista, podendo ser remixados e reaproveitados conforme prevê a licença Creative Commons CC-BY.
The opinions expressed are the sole responsibility of the author (s). When submitting the manuscript to the Editorial Board of Study Psychology, the author (s) assumes responsibility for not having previously published or submitted the same manuscript by another journal. In case of multiple authorship, the manuscript must be accompanied by an authorization signed by all authors. Articles accepted for publication become the property of the journal, and can be remixed and reused as provided for in theby a license Creative Commons CC-BY.