SOFRIMENTO E SOLIDÃO: NARRATIVAS DE PROFISSIONAIS DO SETOR DE ONCOLOGIA
Resumo
No setor de oncologia das instituições hospitalares, visando o cuidado humanizado, tem sido desejável a atuação de profissionais de diferentes áreas. Esse estudo teve o objetivo de investigar a experiência subjetiva dos diferentes profissionais que atuam nesse setor. A pesquisa contou com a participação de 23 profissionais da área de oncologia de um hospital público situado no interior do Rio Grande do Sul. Nesse estudo qualitativo, os participantes foram entrevistados individualmente, sendo tais entrevistas mediadas pela apresentação de uma narrativa interativa, a qual eles eram convidados a inventarem um desfecho e a associarem livremente. Foram identificadas, após consideração psicanalítica, duas categorias intituladas ‘Aos outros eu devolvo a dor’ e ‘Dança da solidão’. A partir delas foi possível identificar, respectivamente, como os profissionais experienciam, em seu cotidiano de trabalho, suas relações com os pacientes e com os seus colegas de equipe. Observou-se que, para os participantes, o cotidiano de trabalho é atravessado por sofrimento por terem de lidar com o mal-estar de seus pacientes, bem como as perdas frequentes, sofrimento esse que fica acentuado por não terem condições de compartilhá-lo com os seus pares no trabalho. Conclui-se que se faz necessário o desenvolvimento de ações, em especial a constituição de um enquadre clínico em que os profissionais possam ter trocas afetivas entre si, o que poderia, num só tempo, tanto ajudá-los a lidar com o sofrimento despertado no setor de oncologia quanto ajudá-los a se sentirem pertencentes a essa equipe composta por diferentes áreas de especialidade.
Downloads
Referências
Aiello-Fernandes, Ambrosio, F.F. e, & Aiello-Vaisberg, T.M.J. (2012). O método psicanalítico como método qualitativo: considerações preliminares. Trabalho apresentado na X Jornada Apoiar – O Laboratório de saúde mental e de Psicologia social – 20 anos: o percurso e o futuro (pp.306-314). São Paulo, SP.
Bianchini, D., Romeiro, F.B., Peuker, A.C., & Castro, E.K. de. (2016). A comunicação profissional paciente em Oncologia: compreensão psicanalítica. Revista Brasileira de Psicoterapia, 18(2), 20-36. Recuperado de https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-848305
Campos, E.P. (2016). Quem cuida do cuidador? Uma proposta para os profissionais de saúde. Petrópolis, RJ: Vozes
Carvalho, C.M.S. de, Barata, E.M.M.A., Parreira, P.M.S.D., & Oliveira. D.C. de. (2014). Trabalho emocional e gestão de emoções em equipes de saúde oncológicas: um estudo qualitativo. Revista de Enfermagem UERJ, 22(1), 9-15. Recuperado de https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/11356/8968
Colombat, P., Lejeune, J., Altmeyer, A., & Fouquereau, E. (2019). Mieux manager pour mieux soigner. Bulletin du Cancer, 106(1), 55-63. Recuperado de https://www.em-consulte.com/en/article/1272727
Duarte, J., & Pinto-Gouveia, J. (2017). The role of psychological factors in oncology nurses’ burnout and compassion fatigue symptons. European Journal of Oncology Nursing, 28, 114-121. doi: https://doi.org/10.1016/j.ejon.2017.04.002
Ferenczi, S. (1992). Confusão de línguas entre os adultos e a criança: a linguagem da ternura e da paixão. In Ferenczi, S. Psicanálise IV. (A.Cabral, trad., pp.97-106). São Paulo, SP: Martins Fontes (Trabalho original publicado em 1933).
Ferreira da Silva, A, Issi, H.B., Motta, N.da G.C. da, & Botene, D.Z. de A. (2015). Cuidados paliativos em oncologia pediátrica: percepções, saberes e práticas na perspectiva da equipe multiprofissional. Revista Gaúcha de Enfermagem, 36(2), 56-62. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2015.02.46299
Granato, T.MM., & Aiello-Vaisberg, T.M.J. (2016). Interactive narratives in the investigation of the collective imaginary about motherhood. Estudos de Psicologia, 33(1), 25-35. doi: https://doi.org/10.1590/1982-02752016000100004
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (2019). Estimativa 2020: estimativa de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA.
Irribary, I.N. (2003). O que é pesquisa psicanalítica? Ágora, VI(1), 115-138. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-14982003000100007
Kpassagou, B.L., & Soedje, K.M.A. (2017). Health practioners’ emotional reactions to caring for hospitalized children in Lomé, Togo: a qualitative study. BMC Health Services Reserch, 17(2), 76-87. doi: https://doi.org/10.1186/s12913-017-2646-9
Lebaron, V., Beck, S.L., Black, F., & Palat, G. (2014). Nurse moral distress and cancer pain management. Cancer Nursing, 37(5), 331-344. doi: https://doi.org/10.1097/NCC.0000000000000136
Luz, K.R. da, Vargas, M.A. de O., Barlem, E.L.D., Schmitt, P.H., Ramos, F.R.S., & Meirelles, B.H.S. (2016). Estratégias de enfrentamento por enfermeiros da Oncologia na alta complexidade. Revista Brasileira de Enfermagem, 69(1), 67-71. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167.2016690109i
Martins, A.M.,& Modena, C.M. (2016). Estereótipos de gênero na assistência ao homem com câncer: desafios para a integralidade. Trabalho, educação e saúde, 14(2), 399-420. doi: https://doi.org/10.1590/1981-7746-sip00110
Moraes, C.J.A. de, & Granato, T.M.M. (2014). Narrativas de uma equipe de enfermagem diante da iminência da morte. Psico, 45(4), 475-484. Recuperado de: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6678122
Oliveira, A.E.G. de, & Cury, V.E. (2016). Cuidar em Oncologia: uma experiência para além do sofrimento. Memorandum, 31, 237-258. Recuperado de: http://www.fafich.ufmg.br/memorandum/wp-content/uploads/2016/12/oliveiracury01.pdf
Pacheco, C.L., & Goldim, J.R. (2019). Percepções da equipe interdisciplinar sobre cuidados paliativos em Oncologia pediátrica. Revista Bioética, 27(1), 67-75. doi: https://doi.org/10.1590/1983-80422019271288
Reis, C.G. da C. dos, Farias, C.P., & Quintana, A.M. (2017). O vazio de sentido: suporte da religiosidade para pacientes com câncer avançado. Psicologia, Ciência & Profissão, 37(1), 106-118. doi: https://doi.org/10.1590/1982-3703000072015
Sanches, K. dos S., Rabin, E.G., & Teixeira, P.T. de O. (2018). Cenário da publicação científica dos últimos 5 anos sobre os cuidados paliativos em Oncologia: revisão de escopo. Revista da Escola de Enfermagem, 52, 1-9. doi: https://doi.org/10.1590/s1980-220x2017009103336
Sharma, N., Takkar, P., Purkayastha, A., Jaiswal, P., Taneja, S., Lohia. N., & Augustine, A.R. (2018). Occupational stress in the Indian Army Oncology Nursing Workforce: a cross-sectional study. Asia-Pacific Journal of Oncology Nursing, 5(2), 237-243. doi: https://doi.org/10.4103/apjon.apjon_61_17
Silveira. M.H., Ciampone, M.H.T., & Gutierrez, B.A.O. (2014). Percepção da equipe multiprofissional sobre cuidados paliativos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 17(1), 7-16. doi: https://doi.org/10.1590/S1809-98232014000100002
Tachibana, M., Ambrosio, F.F. e, Beaune, D., & Aiello-Vaisberg, T.M.J. (2014). O imaginário coletivo da equipe de enfermagem sobre a interrupção da gestação. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 17(2), 285-297. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-14982014000200009
Turato, E.R. (2013). Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: Construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis, RJ: Vozes.
Wanderbroocke, A.C.N. de S., Baash, C., Antunes, M.C., & Menezes, M. (2018). O sentido de comunidade em uma equipe multiprofissional hospitalar: hierarquia, individualismo e conflito. Trabalho, educação e saúde, 16(3), 1157-1176. doi: https://doi.org/10.1590/1981-7746-sol00155
Winnicott, D.W. (1983). Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self. In D.W. Winnicott, O ambiente e os processos de maturação (I.C.S. Ortiz, trad., pp.128-139). Porto Alegre, RS: Artes Médicas (Trabalho original publicado em 1960).
Winnicott, D.W. (1994). A contribuição da Psicanálise à Obstetrícia. In D.W. Winnicott, Os bebês e suas mães (M.H.S. Patto, trad., pp.61-72). São Paulo, SP: Martins Fontes (Trabalho original publicado em 1957).
Winnicott, D.W. (1994). O Jogo do Rabisco. In C. Winnicott, R. Sheperd, R. & M. Davis (Orgs.). Explorações psicanalíticas D.W. Winnicott (J.O. de A. Abreu, trad., pp.230-243). Porto Alegre, RS: Artes Médicas (Trabalho original publicado em 1968).
Wolf, A., Garlid, C.F., & Hyrkas, K. (2018). Physicians’ perceptions of hope and how hope informs interactions with patients: a qualitative, exploratory study. American Journal of Hospice and Palliative Medicine, XX(X), 1-7. doi: https://doi.org/10.1177/1049909117751877
Copyright (c) 2023 Psicologia em Estudo

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
As opiniões emitidas, são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). Ao submeterem o manuscrito ao Conselho Editorial de Psicologia em Estudo, o(s) autor(es) assume(m) a responsabilidade de não ter previamente publicado ou submetido o mesmo manuscrito por outro periódico. Em caso de autoria múltipla, o manuscrito deve vir acompanhado de autorização assinada por todos os autores. Artigos aceitos para publicação passam a ser propriedade da revista, podendo ser remixados e reaproveitados conforme prevê a licença Creative Commons CC-BY.
The opinions expressed are the sole responsibility of the author (s). When submitting the manuscript to the Editorial Board of Study Psychology, the author (s) assumes responsibility for not having previously published or submitted the same manuscript by another journal. In case of multiple authorship, the manuscript must be accompanied by an authorization signed by all authors. Articles accepted for publication become the property of the journal, and can be remixed and reused as provided for in theby a license Creative Commons CC-BY.