Uma UMA CRÍTICA À DISFUNÇÃO DOS NEURÔNIOS ESPELHO COMO HIPÓTESE ETIOLÓGICA DO AUTISMO
Resumo
O ensaio teórico em tela apresenta-se como uma contribuição no campo das discussões acerca da etiologia do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para tanto, parte-se do arcabouço teórico metodológico da Psicologia Histórico-Cultural como lente para a investigação e análise da hipótese etiológica da disfunção do Sistema de Neurônios Espelho (SNE). O processo investigativo contemplou a trajetória histórica de classificação, descrição e principais hipóteses etiológicas do TEA até a atual categorização de Transtorno do Neurodesenvolvimento na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), compreendendo um caminho que parte desde as concepções emocionais até a busca de marcadores neurobiológicos. Nessa direção, inscreve-se como explicação etiológica na alçada das neurociências, a hipótese da disfunção do SNE, que decorre do avanço tecnológico dos exames de neuroimagem. O SNE foi descoberto a partir dos estudos em símios conduzindo a observação da relação entre ação e percepção, vista também nos humanos, deste modo, funções psicológicas como linguagem e imitação foram atribuídas à atividade nervosa desse sistema de neurônios. A psicologia histórico-cultural apresenta-se nessa discussão sob a inadiável compreensão de desenvolvimento típico e atípico e sua relação com o TEA, versado sobre a periodização do desenvolvimento e, por assim dizer, do caráter e fundamento sociocultural das funções psicológicas.
Downloads
Referências
Baron-Cohen S. (2009). Autism: the empathizing-systemizing (E-S) theory. Ann N Y Acad Sci.; 1156:68-80. doi: 10.1111/j.1749-6632.2009.04467.x
Brasil. (2015). Linha de cuidado para atenção às pessoas com transtorno do espectro autista e suas famílias na rede de atenção psicossocial do sistema único de saúde. 1 ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde. Recuperado: 06 out. 2019. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/linha_cuidado_atencao_pessoas_transtorno.pdf
Caetano, R. A. F.; Ferreira, M. R. F. (2018). Neurônios espelho: reflexos de uma reflexão. Filosofia e História da Biologia. v. 13, n. 2, p. 147-168.
Castro, F. S. (2017). Desenvolvimento da linguagem em pessoas com autismo: contribuições a partir da perspectiva histórico-cultural. [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Maringá - UEM Maringá, PR]. Teses e dissertações UEM. http://www.ppi.uem.br/arquivos-2019/UEM_PPI_Fernanda%20Castro.pdf
Di Cesare, G., Di Dio, C., Marchi, M., & Rizzolatt, G. (2015). Expressing our internal states and understanding those of others. National Academy of Sciences, 112 (33), 10331-10335. doi:10.1073/pnas.1512133112
Doidge, N. (2015). The Brain’s Way of Healin: remarkable discoveries and recoveries from the frontiers of neuroplasticity. USA: Viking Penguin.
Doidge, N. (2016). O cérebro que se transforma. Rio de Janeiro: Record.
Elkonin, D. B. (2017) Sobre o problema da periodização do desenvolvimento psíquico na infância. In: Longarezi, A. M.; Puentes, V. R. (org). Ensino desenvolvimental: antologia livro I (pp. 149-172). Uberlândia, MG: EDUFU.
Fletcher-Watson, S. McConnell F., Manola, E., & McConachie, H. (2014). Interventions based on the Theory of Mind cognitive model for autism spectrum disorders (ASD) (Review). Cochrane Database of Systematic Review, 1-80. doi: 10.1002/14651858.CD008785.pub2
Gallese, V., Goldman, A. (1998). Mirror neurons and the simulation theory of mind-reading. Trends in Cognitive Sciences, 2 (12), 493-501. doi:10.1016/s1364-6613(98)01262-5
Goldson, E. (2016). Advance in Autism. Advances in pediatrics, 63, 333-355. doi: 10.1016/j.yapd.2016.04.014
Hamilton, A. F. C., Brindley, R. M., & Frith, U. (2007). Imitation and action understanding in autistic spectrum disorders: how valid is the hypothesis of a deficit in the mirror neuron system? Neuropsychologia, 45 (8), 1859-1868. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2006.11.022
Hamilton, A. F. C. (2012). Reflecting on the mirror neuron system in autism: A systematic review of current theories. Developmental Cognitive Neuroscience, 3, 91–105. doi: 10.1016/j.dcn.2012.09.008
Heyes, C. (2018) Empathy is not in ours genes. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 95, 499-507. doi:10.1016/j.neubiorev.2018.11.001
Hickok, G. (2009). Eight Problems for the Mirror Neuron Theory of Action Understanding in Monkeys and Humans. Journal of Cognitive Neuroscience, 21 (7), 1229-1243. doi: 10.1162/jocn.2009.21189
Hickok, G. (2014). The Myth of Mirror Neurons: The Real Neuroscience of Communication and Cognition. New York W.W Norton & Company.
Huang, J. Visão Geral da Função Cerebral. (2017). Manual MSD Versão para Profissionais de Saúde, recuperado em 01 de outubro de 2019 em, https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-neurol%C3%B3gicos/fun%C3%A7%C3%A3o-e-disfun%C3%A7%C3%A3o-dos-lobos-cerebrais/vis%C3%A3o-geral-da-fun%C3%A7%C3%A3o-cerebral>.
Iacoboni, M. (2009). Mirror People: The science of empathy and how we connect with others. USA: Picador.
Kajihara, O. T. (2014). 1943-2013: Setenta anos de pesquisa sobre o autismo. In Mori, N. N.R.; Cerezuela, C. (Orgs.). Transtornos Globais do Desenvolvimento e Inclusão: aspectos históricos, clínicos e educacionais. (pp. 20-33). Maringá, PR: Eduem.
Leontiev, N. A. (1987). El desarrollo psíquico del niño en la edad preescolar. In: Shuare, M.; Davídov, V. La Psicologia Evolutiva y Pedagogica en la URSS (pp. 57-70). URSS: Editorial Progreso.
Luria, A. R. (1981). Fundamentos de Neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo.
Luria, A. R. (2017). Reorganização das funções por meio dos sistemas funcionais. In: Longarezi, A. M.; Puentes, V. R. (org). Ensino desenvolvimental: antologia livro I (pp. 59-110). Uberlândia, MG: EDUFU.
Manouilenko, I.; Bejerot, S. (2015). Sukhareva - Prior to Asperger and Kanner. Nordic journal of Psychiatry, 69 (6), 1761-1764. doi:10.3109/08039488.2015.1005022
Oberman, L. M., Hubbard, E. M., McCleery, J. P., Altschuler, E. L., Ramachandran, V. S., & Pineda J. A. (2005). EEG evidence for mirror neuron dysfunction in autism spectrum disorders. Cognitive Brain Research, 24 (2), 190-198. doi: 10.1016/j.cogbrainres.2005.01.014
Oberman, L. M., Pineda, J. A., & Ramachandran, V. S. (2007). The human mirror neuron system: a link between action observation and social skills. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2 (1), 62-66. doi: 10.1093/scan/nsl022
Perkins, T., Stokes, M., McGillivray, J. & Bittar, R. (2010) Mirror neuron dysfunction in autism spectrum disorders. Journal of Clinical Neuroscience. 17 (10), 1239-1243. doi: 10.1016/j.jocn.2010.01.026
Ramachandran, V. S., & Oberman, L. M. (2006). Broken mirrors: a theory of autism. Scientific American, 295 (5), 1106-1162. doi: 10.1038/scientificamerican1106-62
Ramachandran, V. S. (2000). MIRROR NEURONS and imitation learning as the driving force behind the great leap forward in human evolution. Edge. Recuperado em 01 de setembro de 2019, em https://www.edge.org/conversation/mirror-neurons-and-imitation-learning-as-the-driving-force-behind-the-great-leap-forward-in-human-evolution
Ramachandran, V. S. (2014). O que o cérebro tem para contar: Desvendando os mistérios da natureza humana. Rio de Janeiro: Zahar.
Rivière, À. (2007). Autismo e os transtornos globais do desenvolvimento. In Coll, C. et al. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação (2a ed., pp. 234-254). Porto Alegre, RS: Artmed.
Rizzolatti, G., & Arbib, A. M. (1998). Language within our grasp. Trends Neuroscience, 21 (5), 188-194. doi: 10.1016/s0166-2236(98)01260-0
Rizzolatti, G., & Fogassi, L. (2014). The mirror mechanisms: recent findings and perspectives. Philosophical Transactions of The Royal B Society, 369, 1-12. doi: 10.1098/rstb.2013.0420
Rizzolatti, G., & Sinigaglia, C. (2016). The mirror mechanism: a basic principle of brain function. Nature, 17 (12), 757-765. doi: 10.1038/nrn.2016.135
Sacks, O. (2015). Um antropólogo em marte: Sete histórias paradoxais. São Paulo: Editora Schwarcz.
Silberman, S. (2015). Neurotribes: The Legacy of Autism and The Future of Neurodiversity. New York: Avery.
Silva, C. R. (2017). Análise da Dinâmica da Formação de Caráter e a Produção da Queixa Escolar na Educação Infantil: contribuições à luz da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica. [Tese de doutorado, Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita”]. Teses – educação escolar UNESP. https://repositorio.unesp.br/handle/11449/152064
Southgate, V., & Hamilton, A. F. C. (2008). Unbroken mirrors: challenging a theory of Autism. Trends in Cognitive Sciences, 12 (6), 225-229. doi:10.1016/j.tics.2008.03.005
Wing, L. (1981). Asperger’s Syndrome: a clinical account. Psychological Medicine, 11, 115-129. doi: 10.1017/S0033291700053332
Wing, L. (1991). The relationship between Asperger’s syndrome and Kanner’s autism. In Frith, U. (Org). Autism and Asperger Syndrome (pp. 93-121). Cambridge: Cambridge University Press. doi: 10.1017/CBO9780511526770.003
Wing, L. (1997). The history of ideas of autism: legends, myths and reality. Autism Sage Publication, 1(1), 13-23. doi: 10.1177/1362361397011004
Vigotski, L. S. (2018). Sete aulas de L. S. Vigotski sobre os fundamentos da pedologia (1ª ed). Rio de Janeiro: E-Papers.
Vygotski, L. S. (1997). Obras Escogidas V: Fundamentos de defectologia. Madrid: Visor Dis.
Vygotski, L. S. (2006) Obras Escogidas IV: Psicología infantil. Madrid: A. Machado Libro.
Vygotski, L. S. (2012). Obras Escogidas III: Problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Machado Grupo de Distribución.
Vygotski, L. S. (2017). Obras Escogidas VI: Herencia científica. Madrid: Machado Grupo de Distribución.
Copyright (c) 2024 Psicologia em Estudo

This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
As opiniões emitidas, são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es). Ao submeterem o manuscrito ao Conselho Editorial de Psicologia em Estudo, o(s) autor(es) assume(m) a responsabilidade de não ter previamente publicado ou submetido o mesmo manuscrito por outro periódico. Em caso de autoria múltipla, o manuscrito deve vir acompanhado de autorização assinada por todos os autores. Artigos aceitos para publicação passam a ser propriedade da revista, podendo ser remixados e reaproveitados conforme prevê a licença Creative Commons CC-BY.
The opinions expressed are the sole responsibility of the author (s). When submitting the manuscript to the Editorial Board of Study Psychology, the author (s) assumes responsibility for not having previously published or submitted the same manuscript by another journal. In case of multiple authorship, the manuscript must be accompanied by an authorization signed by all authors. Articles accepted for publication become the property of the journal, and can be remixed and reused as provided for in theby a license Creative Commons CC-BY.