Conflitos morais e colonialismo em O mandarim, de Eça de Queiroz

  • Silvana Seabra Hooper Universidade Presbiteriana Mackenzie / Universidade Católica de Minas Gerais
Palavras-chave: Eça de Queiroz; O mandarim; imperialismo; mundialização; literatura.

Resumo

O trabalho analisa o conto O mandarim, de Eça de Queiroz, como marcador da ambivalência, ao final do século XIX, entre a ordem mundial do imperialismo e as pautas de uma imaginação ampliada da universalidade humana. Eça de Queiroz parte de antiga questão filosófica, sob o título ‘o dilema do mandarim’, que propõe que a distância no tempo e no espaço é proporcionalmente inversa à indiferença humana pelo sofrimento e pela dor. Partindo dos estudos culturais e da história social, o artigo propõe uma leitura mais detalhada da obra, não apenas como reflexo de um processo econômico e social, mas também como construtora de uma forma de sensibilização através da ficcionalidade. Esse aspecto é também cotejado pelas autoras Lynn Hunt, historiadora, e por Martha Nussbaum, filósofa, ambas com dedicação ao problema dos efeitos emocionais dos romances dos séculos XVIII e XIX para a instituição da moralidade humana naquilo que concerne à noção de igualdade moderna. Sob essa temática é que surgem os conceitos de simpatia ou empatia, que mesmo já consolidados na psicologia social, ainda são frágeis no âmbito dos estudos sociais e literários. Ao trazê-los para a análise de O mandarim, mostramos que o aparentemente singelo trabalho de Eça pode ser problematizado em proporções sociais simbólicas, que deslizam da narrativa colocada em termos individuais para considerações sobre lugares e formações ampliadas, como a relação entre Ocidente e Oriente. Ao mesmo tempo que propõe questões de caráter mais genérico, o texto também coloca em tela a condição identitária de Portugal à época do escrito eciano, sugerindo uma trama mais complexa como pano de fundo da ficção de O mandarim.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Metrics

Carregando Métricas ...

Referências

Referências

Al-Azm, S. J. (2000). Orientalism and orientalismo reverse. In A. L. Macfie (Ed.), Orientalism: a reader (p. 217-238). New York, NY: New York University Press.

Baker, G. (2020). Realism's Empire: empiricism and enchantment in the nineteenth-century novel. Athens, OH: Ohio State University Press.

Balzac, H. (2015). O Pai Goriot. São Paulo, SP: Penguin.

Berrini, B. (1992). Introdução. In E. Queirós, O mandarim (p. 1569). Lisboa, PT: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Bleiker, R. (2009). Aesthetics and world politics. New York, NY: Palgrave Macmillan.

Brewster, S., & Thurston, L. (2018). Introduction. In S. Brewster, & L. Thurston (Eds.), The Routledge handbook to the ghost story. New York, NY: Routlegde.

Brooks, P. (2005). Realist vision. New Haven, CT: Yale University Press.

Carey, B. (2005). British Abolitionism and the rhetoric of sensibility: writing, sentiment, and slavery, 1760-1807. New York, NY: Palgrave Macmillan.

Carey, B., Ellis, M., & Salih, S. (2004). Discourses of slavery and abolition: writing in britain and its colonies 1660-1832. London, UK: Palgrave.

Casanova, P. A. (2002). República mundial das letras. São Paulo, SP: Estação Liberdade.

Clifford, J. (1980). Review of orientalism - Edward W. Said. History and Theory, 19(2), 204-223.

Conrad, J. (2002a). Coração das trevas. São Paulo, SP: Abril/Controljornal.

Conrad, J. (2002b). Lord Jim. Rio de Janeiro, RJ: Editora Revan.

Costa Lima, L. (2003). O redemunho do horror. São Paulo, SP: Editora Planeta.

Damrosch, D. (2003). What is world literature? Princeton, NJ: Princeton UP.

Eagleton, T. (2009). Trouble with strangers: a study of ethics. Hoboken, NJ: Wiley-Blackwell Press.

Elias, N. (2011). O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Febvre, L. (1985). A sensibilidade e a história. In L. Febvre, Combates pela história (p. 217-232). Lisboa, PT: Presença.

Foucault, M. (2013). O Corpo utópico, as heterotopias. São Paulo, SP: n-1 Edições.

Freud, S. (1919). O estranho. In S. Freud, Obras psicológicas completas (Vol. 17, p. 275-314). Rio de Janeiro, RJ: Imago.

Ginzburg, C. (2011). Matar um mandarim chinês. As implicações morais da distância. In C. Ginzburg, Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância (p. xx-xx). São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Hayot, E. (2009). The hypothetical mandarin: sympathy, modernity, and chinese pain. Oxford, UK: Oxford University Press.

Huizinga, J. (1985). O outono da idade média. Lisboa, PT: Ulisses.

Hunt, L. (1992a). A nova história cultural. São Paulo, SP: Martins Fontes.

Hunt, L. (1992b). The family romance of the french revolution. Oakland, CA: University Califórnia Press.

Hunt, L. (2009). A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Levinas, E. (2008). Totalidade e infinito. Coimbra, PT: Edições 70.

Lewis, B. (1982). The question of orientalism. New York Review of Books. Recuperado de https://motherfoucaultsreadinggroup.wordpress.com/wp-content/uploads/2016/01/the-question-of-orientalism.pdf

Lewis, M. (2016). Self-conscious emotions: embarrassment, pride, shame, guilt, and hubris. In M. Lewis, Handbook of emoticons (p. 792-814). New York, NY: The Guilford Press.

Lourenço, E. (2001). A náu de Ícaro. São Paulo, SP: Companhia da Letras.

Lourenço, E. (1991). O labirinto da saudade. Lisboa, SP: Tinta da China.

Martins, A. C. (1967). O mandarim assassinado. In A. C. Martins, Ensaios Queirosianos (p. 10-266). Lisboa, PT: Europa-América.

Moretti, F. (2003). Atlas do romance europeu: 1800-1900. São Paulo, SP: Boitempo.

Nussbaum, M. (1991). The literary imagination in public life. New Literary History, 22(4), 877-910.

Poetic world politics. (2000). Alternatives: Social Transformation and Humane Governance, 25(3), 269-413.

Popper, K. R. (2001). A lógica da pesquisa científica. São Paulo, SP: Cultrix.

Queiroz, E. (2012). O mandarim. São Paulo, SP: Tordesilhas.

Reddy, W. M. (2004). The Navigation of feeling: a framework for the history of emotions. New York, NY: Cambridge: Cambridge University Press.

Ribeiro, M. C. (2002). Empire, Colonial wars and post-colonialism in portuguese contemporary imagination. Portuguese Studies, 17(1), 132-214.

Said, E. W. (2011). Cultura e imperialismo. São Paulo, SP: Companhia das Letras

Said, E. W. (1990). Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente. São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Santos, B. S. (2002). Entre Próspero e Caliban: colonialismo, pós-colonialismo e inter-identidade. Luso-Brazilian Review, 39(2), 9-43.

Santos, B. S. (1993). Modernidade, identidade e a cultura de fronteira. Tempo Social, 5(1-2), 31-52.

Sivan, E. (1997). Orientalism polemics. Recuperado de https://in.bgu.ac.il/en/heksherim/2005/Orientalism-Polemics.pdf

Taylor, C. (1997). As fontes do self. São Paulo, SP: Editora Loyola.

The aesthetic turn in international political theory. (2001). Millennium: Journal of International Studies, 30(3), 509-894.

Todd, J. M. (1986). Sensibility an introduction. London, UK: Methuen Press.

Wallerstein, I. (1999). Análise dos sistemas mundiais. In A. Giddens, & J. Turner (Orgs.), Teoria social hoje (p. 447-470). São Paulo, SP: Editora da UNESP.

Watt, I. (1990). A ascensão do romance: estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding. São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Young, R. (1990). White mythologies. London, UK: Routledge.

Publicado
2024-08-08
Como Citar
Hooper, S. S. (2024). Conflitos morais e colonialismo em O mandarim, de Eça de Queiroz. Acta Scientiarum. Language and Culture, 46(2), e69623. https://doi.org/10.4025/actascilangcult.v46i2.69623
Seção
Literatura

 

0.1
2019CiteScore
 
 
45th percentile
Powered by  Scopus

 

 

0.1
2019CiteScore
 
 
45th percentile
Powered by  Scopus