Para além da escrita do trauma: testemunho e sublimação na poesia do cárcere político
Resumen
O encarceramento de militantes e opositores à ditadura militar foi um dos traços mais nefastos do regime que perdurou de 1964 a 1985. A crueldade dos instrumentos e das técnicas de tortura, que mantiveram as vítimas sistematicamente à beira da morte – a própria e a de seus companheiros e familiares –, resultou em intensa violência psíquica, conforme se observa em variados registros, como depoimentos, relatos, cartas etc. Além das formas narrativas tradicionais, os presos pelos órgãos militares também produziram um relevante número de poemas, tanto no período de clausura, escritos e conservados de maneira clandestina, quanto em liberdade pós-prisão. Entendendo a produção poética como um reendereçamento pulsional na economia psíquica, em especial num contexto de sobrevivência às graves violações de direitos humanos básicos, a proposta deste trabalho é revisitar o tema da sublimação, discutido em cotejo com as contribuições de Sigmund Freud e Jacques Lacan sobre o tema, na leitura de poemas produzidos por presos políticos durante a ditadura militar brasileira, a partir da obra de poetas como Alex Polari, Aybirê Ferreira de Sá, Gilney Viana, Lara de Lemos e Pedro Tierra. A fundamentação teórica se ancorará principalmente nos postulados da psicanálise, com apoio em Birman, Freud e Lacan, e na teoria da literatura de testemunho, em diálogo com Seligmann-Silva.
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Referências
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