Sobre (não) generificação e binarização de gênero no Brasil: documentos históricos e modos de vida ancestrais
Résumé
As ideologias linguísticas inscrevem representações variadas sobre as práticas linguísticas, como as funções, as normas, os valores, as expectativas, as preferências e os papéis e sujeitos envolvidos nessas práticas. Este artigo versa sobre a ideologia binarizada de gênero, bem como os interesses e valores manifestados em seu percurso histórico, que se materializam através de recursos semióticos e linguísticos. Objetiva-se explorar as ideologias linguísticas relacionadas à (não) generificação e binarização de gênero, considerando suas manifestações em documentos históricos e modos de vida ancestrais. Para tanto, os seguintes procedimentos metodológicos e analíticos são adotados: levantamento e análise de registros documentais dos séculos XVI, XVIII, XIX e XXI, a fim de identificar práticas coloniais e neocoloniais racistas e de repressão às expressões de gênero não binárias; breve descrição da organização social e a cosmogonia yorubás, para destacar a presença de uma linguagem não sexista e não binarizada, que exerce influência no contexto dos terreiros de candomblé brasileiros e; investigação da figura de Exu como orixá da comunicação que apresenta uma epistemologia não binária e que contribui para a formação de categorias identitárias. Assim, são acionados documentos e análise/observação de contexto religioso. Por meio da abordagem comparada dos documentos, discursos e contextos mencionados, foi possível identificar a construção do gênero como marcador social; a construção binária e hierarquizante de gênero social (masculino vs. feminino) e a invisibilização de formas não binárias em gênero e não generificadas no Brasil.
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