Patologização das instabilidades da escrita inicial: Um estudo de caso à luz da neurolinguística discursiva
Résumé
Este trabalho se fundamenta nos pressupostos teórico-metodológicos da Neurolinguística Discursiva e tem como objetivo apresentar um estudo de caso de uma criança que recebeu uma hipótese diagnóstica indevida de dislexia, justificado pelas chamadas trocas de letras na escrita. Tal hipótese foi elaborada em avaliação psicopedagógica, através de testes clínicos padronizados e de protocolo de avaliação da escrita baseado na psicogênese de Emília Ferreiro. Apresentarei dados do estudo longitudinal (junto à criança, focado na reflexão sobre a complexa relação entre fala, leitura e escrita) realizado com o objetivo de analisar e intervir no processo de aquisição da escrita. Os resultados mostram que o registro gráfico de processos fonológicos foi avaliado pela clínica tradicional como evidência de uma patologia relacionada à escrita e à leitura. A hipótese diagnóstica de dislexia inicialmente elaborada não se sustenta diante das análises de dados apresentadas à luz das teorias mobilizadas pela ND e pela análise da escrita em ato, momento no qual é possível flagrar as relações entre fala e escrita. Em conclusão, a Neurolinguística Discursiva ressalta a necessidade da mobilização de teorias linguísticas para avaliar a escrita inicial, de modo que se evite patologizar processos comuns e previstos no período de alfabetização.
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