APRIMORAMENTO COGNITIVO FARMACOLÓGICO: MOTIVAÇÕES CONTEMPORÂNEAS

  • Solange Franci Raimundo Yaegashi Universidade Estadual de Maringá
  • Robson Borges Maia Centro Universitário de Maringá
  • Rute Grossi Milani Centro Universitário de Maringá
  • Nilza Sanches Tessaro Leonardo Universidade Estadual de Maringá

Abstract

O objetivo deste artigo, de caráter teórico descritivo, foi analisar as principais motivações para o aprimoramento cognitivo farmacológico na contemporaneidade, mediante o diálogo com autores que investigaram alguns fenômenos da denominada pós-modernidade, tais como Deleuze (1992), Foucault (2000), Bauman (2001) e Han (2015), além de autores do campo psicanalítico (Bezerra Júnior, 2010; Ferraz, 2014; Birman, 2014) que tecem críticas à questão da medicalização da educação e seus desdobramentos. Constatou-se que, na atualidade, a busca pelo aprimoramento cognitivo farmacológico está intimamente ligada ao estilo de vida e ao de sociedade construídos nas últimas décadas. Independentemente da palavra utilizada para nomear o momento histórico vivido, está cada vez mais difícil lidar com a realidade e, nesse contexto, o aprimoramento cognitivo farmacológico revela-se como uma das facetas do fenômeno recente conhecido como psiquiatrização da normalidade. Como resultado, nota-se também que o uso não médico e indiscriminado de medicamentos para ‘turbinar’ o cérebro tem tornado uma prática comum entre os estudantes universitários; por esse motivo, não se trata meramente de uma questão educacional relacionada à interferência nos processos de ensino e de aprendizagem, mas de um problema de saúde pública. Conclui-se que esse fenômeno suscita, na sociedade atual, desafios de diferentes ordens, razão pela qual merece atenção especial da comunidade científica.

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Biografie autore

Solange Franci Raimundo Yaegashi, Universidade Estadual de Maringá

Solange Franci Raimundo Yaegashi

Pós-Doutorado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Psicóloga. Docente do Departamento de Teoria e Prática da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: solangefry@gmail.com

Robson Borges Maia, Centro Universitário de Maringá

Robson Borges Maia

Doutorando em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Psicólogo. Docente do Curso de Psicologia no Centro Universitário de Maringá (Unicesumar) e Consultor em Psicologia Escolar.

E-mail: rb-maia@uol.com.br

Rute Grossi Milani, Centro Universitário de Maringá

Rute Grossi Milani

Doutora em Saúde Mental pela Universidade de São Paulo (USP). Psicóloga. Docente do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar), do Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde e do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Limpas. Pesquisadora do Programa Produtividade em Pesquisa do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICETI). E-mail: rute.milani@unicesumar.edu.br

Nilza Sanches Tessaro Leonardo, Universidade Estadual de Maringá

Nilza Sanches Tessaro Leonardo

Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMP). Psicóloga. Docente do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas – Mestrado Profissional. E-mail: nilza_sanches@yahoo.com

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Pubblicato
2020-09-17
Come citare
Yaegashi, S. F. R., Maia, R. B., Milani, R. G., & Leonardo, N. S. T. (2020). APRIMORAMENTO COGNITIVO FARMACOLÓGICO: MOTIVAÇÕES CONTEMPORÂNEAS. Psicologia Em Estudo, 25. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.46319
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Artigos originais

 

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