As Práticas de Marketing do Mercado de Alimentos Ultraprocessados: Os Arranjos Materiais e Discursivos e as Percepções dos Consumidores

Palavras-chave: Alimentos Ultraprocessados, Práticas de Marketing, Percepções dos Consumidores, Estudos de Mercado

Resumo

O artigo explora como práticas de marketing impactam o consumo de alimentos ultraprocessados, destacando arranjos materiais (embalagens, propagandas) e discursivos (mensagens de saudabilidade e conveniência). Adotando a teoria dos Estudos de Mercado Construtivistas, a pesquisa utilizou entrevistas com consumidores, pesquisadores de saúde e profissionais da indústria para identificar a percepção dos consumidores sobre esses alimentos. Os resultados indicam que o marketing atribui significados emocionais aos produtos, como prazer, relaxamento e recompensa, influenciando escolhas alimentares. Estratégias como apelos à praticidade e associações com sentimentos positivos moldam os hábitos de consumo, muitas vezes em detrimento da qualidade nutricional. Além disso, informações nutricionais parciais e práticas promocionais reforçam vulnerabilidades cognitivas e sistêmicas dos consumidores. O estudo conclui que, ao explorar sensações e sentimentos, as práticas de marketing elevam o consumo de ultraprocessados, contribuindo para problemas de saúde pública, como obesidade. Sugere-se maior regulação e educação nutricional para mitigar esses efeitos. Este trabalho contribui ao debate sobre o papel do marketing na formação de mercados e suas implicações sociais e de saúde.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Araujo, L. (2007). Markets, market-making and marketing. Marketing Theory, 7(3), 211–226. https://doi.org/10.1177/1470593107080342

Araujo, L., Finch, J., & Kjellberg, H. (2010). Reconnecting marketing to markets. In L. Araujo, J. Finch, & H. Kjellberg (Eds.), Reconnecting Marketing to Markets (pp. xvi–12). Oxford University Press.

Araujo, L., Kjellberg, H., & Spencer, R. (2008). Market practices and forms: Introduction to the special issue. Marketing Theory, 8(1), 5–14. https://doi.org/10.1177/1470593107086481

Bauer, M. W., & Gaskell, G. (2002). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som (5ª ed.). Petrópolis: Vozes.

Bardin, L. (2016). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70.

Barnhill, A., Ramírez, A., Ashe, M., Berhaupt-Glickstein, A., Freudenberg, N., Grier, S., Watson, K., & Kumanyika, S. (2022). The racialized marketing of unhealthy foods and beverages: Perspectives and potential remedies. Journal of Law, Medicine & Ethics, 50, 52–59. https://doi.org/10.1017/jme.2022.9

Belk, R., Ger, G., & Askegaard, S. (2003). The fire of desire: A multisited inquiry into consumer passion. Journal of Consumer Research, 30(3), 327–351. https://doi.org/10.1086/378613

Boyland, E. (2023). Is it ethical to advertise unhealthy foods to children? Proceedings of the Nutrition Society, 1–15. https://doi.org/10.1017/S0029665123000010

Brasil, Ministério da Saúde. (2014). Guia alimentar para a população brasileira (2ª ed.). Brasília: Ministério da Saúde.

Brenkert, G. (1998). Marketing and the vulnerable. Business Ethics Quarterly, 8(S1), 7–20. https://doi.org/10.2307/3857612

Çalışkan, K., & Callon, M. (2010). Economization, part 2: A research programme for the study of markets. Economy and Society, 39(1), 1–32. https://doi.org/10.1080/03085140903424519

Callon, M. (1997). Actor-network theory: The market test (draft). In J. Law & J. Hassard (Eds.), Actor Network and After Workshop (pp. 181–195). Keele: Centre for Social Theory and Technology.

Callon, M. (1998a). An essay on framing and overflowing: Economic externalities revisited by sociology. The Sociological Review, 46(S1), 244–269. https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.1998.tb03477.x

Callon, M. (1998b). The laws of the markets. London: Blackwell.

Callon, M., & Muniesa, F. (2003). Les marchés économiques comme dispositifs collectifs de calcul. Réseaux, (122), 189–233. https://doi.org/10.3917/res.122.0189

Callon, M., & Muniesa, F. (2005). Peripheral vision: Economic markets as calculative collective devices. Organization Studies, 26(8), 1229–1250. https://doi.org/10.1177/0170840605056393

Canella, D. S., Louzada, M. L. C., Claro, R. M., Costa, J. C., Bandoni, D. H., Levy, R. B., & Martins, A. P. B. (2018). Consumption of vegetables and their relation with ultra-processed foods in Brazil. Revista de Saúde Pública, 52, 50. https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2018052000107

Castilhos, R. (2015). Dinâmicas de mercado no espaço urbano: Lógica teórica e agenda de pesquisa. ReMark-Revista Brasileira de Marketing, 14(2), 154–165. https://doi.org/10.5585/remark.v14i2.2760

Castilhos, R. B., Dolbec, P. Y., & Veresiu, E. (2017). Introducing a spatial perspective to analyze market dynamics. Marketing Theory, 17(1), 9–29. https://doi.org/10.1177/1470593116657915

Casotti, L. M., & Suarez, M. C. (2016). Dez anos de Consumer Culture Theory: Delimitações e aberturas. Revista de Administração de Empresas, 56(3), 353–359. https://doi.org/10.1590/S0034-759020160308

Charmaz, K. (2009). A construção da teoria fundamentada (1ª ed.). Porto Alegre: Artmed.

Clarke, A. E. (2003). Análises situacionais: Mapeamento da teoria fundamentada após a virada pós-moderna. Interação Simbólica, 26(4), 553–576. https://doi.org/10.1525/si.2003.26.4.553

Clarke, A. E. (2005). Situational analysis: Grounded theory after the postmodern turn. Thousand Oaks, CA: Sage Publications.

Clarke, A. E., Friese, C., & Washburn, R. S. (2018). Situational analysis: Grounded theory after the interpretative turn (2ª ed.). Los Angeles: SAGE.

Cochoy, F. (2003). La «toile» comme force des points faibles? Vers de petites entreprises «internetionales». Réseaux, (5), 119–144. https://doi.org/10.3917/res.121.0119

Cochoy, F. (2008). Calculation, qualculation, calqulation: Shopping cart arithmetic, equipped cognition and the clustered consumer. Marketing Theory, 8(1), 15–44. https://doi.org/10.1177/1470593107086483

Commuri, S., & Ekici, A. (2008). An enlargement of the notion of consumer vulnerability. Journal of Macromarketing, 28(2), 183–186. https://doi.org/10.1177/0276146708315312

Costa, L. M., da Cruz, G. L., Silva, K. A. A. N., Grassi, A. G. F., Andrade, G. C., Rauber, F., & Monteiro, C. A. (2023). Consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil: Distribuição e evolução temporal 2008–2018. Revista de Saúde Pública, 57(1), 12–12. https://doi.org/10.11606/S1518-8787.2023057000107

Costa, M. D., et al. (2024). Panorama da morbidade hospitalar de pacientes internados com obesidade no Brasil. Revista de Saúde Pública, 6(5), 838–848.

Denzin, N. K., & Lincoln, Y. S. (2006). O planejamento da pesquisa qualitativa (2ª ed.). Porto Alegre: Bookman.

Deshpande, B., Kaur, P., Ferraris, A., Yahiaoui, D., & Dhir, A. (2023). The dark side of advertising: Promoting unhealthy food consumption. European Journal of Marketing. https://doi.org/10.1108/EJM-10-2022-0790

Dolbec, P.-Y., & Fischer, E. (2015). Refashioning a field? Connected consumers and institutional dynamics in markets. Journal of Consumer Research, 41(6), 1447–1468. https://doi.org/10.1086/680671

Hagberg, J., & Kjellberg, H. (2010). Who performs marketing? Dimensions of agential variation in market practice. Industrial Marketing Management, 39(6), 1028–1037. https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2010.06.015

Hill, R. P., & Sharma, E. (2020). Vulnerabilidade do consumidor. Journal of Consumer Psychology, 30(3), 551–570. https://doi.org/10.1002/jcpy.1177

Huff, A., Humphreys, A., & Wilner, S. J. (2019). Making markets: The role of design in the process of legitimation. Conference proceedings of the Academy for Design Innovation Management: Research Perspectives in the Era of Transformations, 1165–1177.

Humphreys, A. (2010a). Megamarketing: The creation of markets as a social process. Journal of Marketing, 74(2), 1–19. https://doi.org/10.1509/jmkg.74.2.1

Humphreys, A. (2010b). Semiotic structure and the legitimation of consumption practices: The case of casino gambling. Journal of Consumer Research, 37(3), 490–510. https://doi.org/10.1086/652464

Jackson, M., Harrison, P., Swinburn, B., & Lawrence, M. (2014). Unhealthy food, integrated marketing communication and power: A critical analysis. Critical Public Health, 24, 489–505. https://doi.org/10.1080/09581596.2013.878454

Jaime, P. J., Frias, P. G., Monteiro, H. O. C., Almeida, P. V. B., & Malta, D. C. (2016). Assistência em saúde e alimentação não saudável em crianças menores de dois anos: Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, Brasil, 2013. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, 16(2), 149–157. https://doi.org/10.1590/1806-93042016000200003

Kjellberg, H., & Helgesson, C.-F. (2006). Multiple versions of markets: Multiplicity and performativity in market practice. Industrial Marketing Management, 35(7), 839–855. https://doi.org/10.1016/j.indmarman.2006.06.011

Kjellberg, H., & Helgesson, C.-F. (2007). On the nature of markets and their practices. Marketing Theory, 7(2), 137–162. https://doi.org/10.1177/1470593107076862

Köse, Ş. G., & Çizer, E. Ö. (2021). Tüketicilerin mobil ödemeye yönelik tutum ve kullanma niyeti üzerine bir araştırma. İnternet Uygulamaları ve Yönetimi Dergisi, 12(1), 24–39.

Leme, P. H. M., & Rezende, D. C. (2018). A construção de mercados sob a perspectiva da teoria ator-rede e dos Estudos de Mercado Construtivistas (EMC). RIMAR, 8(2), 133–151. https://doi.org/10.1590/rimar.v8i2.2096

Maruyama, S., Streletskaya, N. A., & Lim, J. (2021). Clean label: Why this ingredient but not that one? Food Quality and Preference, 87, 104062. https://doi.org/10.1016/j.foodqual.2020.104062

Muniesa, F., Millo, Y., & Callon, M. (2007). An introduction to market devices. The Sociological Review, 55(2_suppl), 1–12. https://doi.org/10.1111/j.1467-954X.2007.00727.x

Murray, J. B. (2002). Re-inquiries: The politics of consumption: A re-inquiry on fashion. Journal of Consumer Research, 29(3), 427–440. https://doi.org/10.1086/344122

Nilson, E., et al. (2024). Projeções da prevalência de obesidade e sobrepeso no Brasil e suas implicações para a saúde pública. Congresso Internacional sobre Obesidade, São Paulo, Brasil.

Nøjgaard, M. Ø., & Bajde, D. (2020). Comparison and cross-pollination of two fields of market systems studies. Consumption Markets & Culture, 24(2), 125–146. https://doi.org/10.1080/10253866.2020.1749258

Oliveira, S. R. de. (2013). Configuração do mercado de alimentação local: Um estudo com base na teoria ator-rede. [Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Lavras]. Repositório Institucional. http://repositorio.ufla.br/jspui/handle/1/1242

Organização Pan-Americana de Saúde. (2021). Mitigação das consequências diretas e indiretas da COVID-19 sobre a saúde e o bem-estar dos jovens nas Américas. https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/55304/OPASFPLHLCOVID-19210037_por.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Poulain, J. P. (2013). Sociologia da obesidade. Senac.

Rigoni, L. P., Souza, L. K., Viacava, K., & Bizarro, L. (2018). Técnicas persuasivas de comunicação em comerciais de alimentos para o telespectador brasileiro. Psico, 49(3), 274–284. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018.3.28903

Roodenburg, A., Hanssen, N., & Santen, G. (2023). Marketing or transparency? A study into misleading labelling: With food experts, consumers and the food sector. The 14th European Nutrition Conference FENS 2023. https://doi.org/10.1016/j.nut.2022.04.015

Scaraboto, D., & Fischer, E. (2013). Frustrated fatshionistas: An institutional theory perspective on consumer quests for greater choice in mainstream markets. Journal of Consumer Research, 39(6), 1234–1257. https://doi.org/10.1086/668298

Scrinis, G. (2021). Nutricionismo: A ciência e a política do aconselhamento nutricional. Editora Elefante.

Simmonds, M., Llewellyn, A., Owen, C. G., & Woolacott, N. (2016). Predicting adult obesity from childhood obesity: A systematic review and meta-analysis. Obesity Reviews, 17(2), 95–117. https://doi.org/10.1111/obr.12334

Silva, F., Giatti, L., Figueiredo, R., Molina, M., Oliveira Cardoso, L., Duncan, B., & Barreto, S. (2018). Consumption of ultra-processed food and obesity: Cross-sectional results from the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil) cohort (2008–2010). Public Health Nutrition, 21(12), 2271–2279. https://doi.org/10.1017/S1368980018000890

Souza, S. M. F. D. C., Lima, K. C., Miranda, H. F. D., & Cavalcanti, F. I. D. (2011). Utilização da informação nutricional de rótulos por consumidores de Natal, Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública, 29, 337–343. https://doi.org/10.1590/S1020-49892011000400006

Thompson, C. J., & Coskuner-Balli, G. (2007). Countervailing market responses to corporate co-optation and the ideological recruitment of consumption communities. Journal of Consumer Research, 34(2), 135–152. https://doi.org/10.1086/519143

Onjewu, A.-K., Sadraei, R., & Jafari-Sadeghi, V. (2022). A bibliometric analysis of obesity in marketing research. EuroMed Journal of Business. https://doi.org/10.1108/EMJB-09-2021-0119

Otero, G. (2018). A dieta neoliberal: Lucros saudáveis, pessoas não saudáveis. Austin: University of Texas Press.

Weijo, H. A., Martin, D. M., & Arnould, E. J. (2018). Consumer movements and collective creativity: The case of Restaurant Day. Journal of Consumer Research, 45(2), 251–274. https://doi.org/10.1093/jcr/ucx126

Publicado
2025-02-26
Como Citar
Ássimos, B. M., Duarte, K. F., & Freitas, R. C. de. (2025). As Práticas de Marketing do Mercado de Alimentos Ultraprocessados: Os Arranjos Materiais e Discursivos e as Percepções dos Consumidores. Revista Interdisciplinar De Marketing, 15(1), 92-110. https://doi.org/10.4025/rimar.v15i1.75129
Seção
Artigos