DIFICULDADES ESCOLARES EM CABINDA/ANGOLA: O QUE DIZEM AS MONOGRAFIAS?
Resumo
Este trabalho analisou duas monografias dos cursos de pedagogia e psicologia, do ISCED/UON/Cabinda/Angola. O estudo teve como base a perspectiva histórico-cultural, de Vygotski, articulada com o conceito de gênero de discurso, de Bakhtin. Nessas monografias, encontramos uma diversidade de sentidos e significados. Esses sentidos e significados aparecem como sinônimos de baixo rendimento, insucesso ou fracasso escolar e dificuldades de aprendizagem. Entretanto, apesar dessa diversidade, temos como denominador comum a concepção de que as dificuldades são individuais e de fundo biológico. Elas estão localizadas nos estudantes e em suas famílias. Desse modo, os processos de escolarização nessas escolas de Cabinda, embora incluam os alunos nas escolas, caminham para a exclusão dos mesmos, o que nos indica que as dificuldades não são necessariamente de aprendizagem, mas, sim, que estão nesse processo excludente de escolarização. Pois as monografias estudadas também apontam as condições precárias de funcionamento das escolas e da formação de professores, além das diferenças linguísticas entre a língua local e o português, língua que se fala e escreve nas escolas, como fatores que concorrem para a exclusão de grande parte dos alunos. Isso revela a dupla face da modernidade que, se, por um lado, integra os alunos dentro das escolas, por outro, exclui-os dos processos de ensino-aprendizagem quando tais estudantes manifestam diferenças socioculturais. Por meio de nossas análises, pudemos perceber que nas escolas de Cabinda, como em muitas escolas no Brasil, ensinam-se leitura, escrita e matemática como aquisições de habilidades individuais e não como atividades humanas, como nos ensinou Vygotski.
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