Universidade, trabalho docente e saúde mental: cartas dos professores universitários

Abstract

Resumo

As universidades passaram por modificações nas últimas décadas. Tais mudanças impactam, claramente, o trabalho docente, configurando nele demandas numerosas e distintas, que englobam atividades para além do ensino, pesquisa, extensão e orientação, somadas, também, às tarefas de cunho administrativo e institucional. Tal cenário tem sido marcado, por um quadro de precarização do trabalho, cujas intensificação e extensificação, sobrecarga e escassez de tempo acompanham o docente em seu ofício. Este artigo se concentra em refletir a atividade desempenhada pelos docentes na universidade buscando relações desta com o adoecimento mental desses profissionais. Segue a abordagem qualitativa e foi construído a partir das narrativas, cartas trocadas entre os docentes universitários, além das contribuições dos autores Mancebo (2007), Antunes e Braga (2009), Bosi (2007) e Lemos (2014) entre outros. Os resultados apontam que o trabalho realizado no contexto universitário tem interferido não somente no cotidiano desses profissionais, como também na composição da sua saúde mental, pois, no ofício desenvolvido, há extensão de compromissos, escassez de tempo, sobrecarga, múltiplas demandas, precarização e intensificação do trabalho, situações que têm acometido a esses profissionais danos à saúde mental.

 

Palavras-chave: Universidade. Trabalho Docente. Saúde Mental. Cartas.

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Biografie autore

Eva Flávia de Oliveira da Silva, Universidade Federal de São João Del-rei

Mestranda em Educação na Universidade Federal de São João Del Rei , Especialista em Educação Inclusiva e Especial, Especialista em Orientação , Supervisão e Inspeção Escolar. Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais. Membro do Grupo de Estudos Pesquisa Extensão Políticas Públicas e Gestão Escolar e Grená-NESC . Ex- aluna do Programa de Residência Pedagógica, fomentada pela CAPEs na Universidade do Estado de Minas Gerais.

Cássia Beatriz Batista, Universidade Federal de São João Del-rei

Doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (2012), com estágio doutoral na Universidade Federal de Santa Catarina (2011). Mestre em Psicologia (2003) e Graduação em Psicologia pela UFMG (1998). Professora Adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rey (UFSJ). Leciona nos cursos de Medicina e Psicologia e nos Programas de Pós-Graduação em Educação, Psicologia e Residência Médica de Medicina de Família e Comunidade PRM-MFC) na UFSJ. Atualmente, coordenadora do Núcleo de Saúde Coletiva (NESC), do Grupo de Estudos Narrativas e cuidado (GRENá) e vice-coordenadora da Residência (MFC). Colaboradora no Núcleo de Apoio Psicoeducativo da Medicina (NAPEM-UFSJ). Integrante do NAGES (Narrativas, Gênero e Saúde). Interesse e projetos nas seguintes temáticas: educação em saúde, educação permanente em saúde, relação escola-serviço-comunidade, trabalho e educação, formação e ensino superior, saúde na universidade, vida acadêmica, narrativas em saúde, pesquisa-intervenção, metodologias ativas de aprendizagem e metodologia qualitativa.

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Pubblicato
2024-05-15
Come citare
Eva Flávia de Oliveira da Silva, & Cássia Beatriz Batista. (2024). Universidade, trabalho docente e saúde mental: cartas dos professores universitários. Teoria E Prática Da Educação, 27(1), e70219. https://doi.org/10.4025/tpe.v27i1.70219
Sezione
Artigos