O atendimento no SUS a mulheres imigrantes no Distrito Federal: relatos dos profissionais de saúde
Resumo
O presente artigo analisa as políticas públicas, relações sociais e condições de atendimento às mulheres imigrantes no Sistema Único de Saúde (SUS), no Distrito Federal. A pesquisa foi realizada entre março de 2020 e julho de 2022 e baseia-se nas narrativas de profissionais de saúde que atenderam mulheres imigrantes. O trabalho de campo foi feito através de observação participante em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do DF, onde também foram coletadas quatorze entrevistas semiestruturadas com diferentes profissionais, que trabalham na UBS, como médicos/as, residentes, enfermeiras, assistentes sociais, agentes comunitários. Os relatos desses profissionais indicam como principais barreiras para o atendimento à saúde às mulheres imigrantes: 1) dificuldade de compreender o funcionamento do SUS; 2) barreiras linguísticas e culturais; 3) fragilidades no processo de construção da relação de confiança; 4) precariedades nas condições de trabalho na UBS e; 5) falta de orientações e diretrizes. Foram também identificados elementos positivos capazes de atenuar tais barreiras. O estudo concluiu que fatores sociais estruturantes, culturais e relacionais afetaram diretamente o atendimento à saúde das mulheres imigrantes pelos profissionais do SUS.
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