A sociologia sai da escola

a Reforma Capanema de 1942 e as disputas dos católicos em torno da disciplina no Brasil

Palavras-chave: reforma do ensino secundário, sociologia católica, Gustavo Capanema, história do ensino da sociologia no Brasil

Resumo

O artigo analisa, de uma perspectiva histórica, o contexto intelectual e político em que se operou, a partir da Reforma Capanema de 1942, a exclusão da sociologia como disciplina obrigatória do currículo das escolas secundárias. Partindo das interpretações que se cristalizaram em torno desse episódio-chave para a história das ciências sociais no Brasil, busca complexificar as leituras correntes à luz do exame das fontes primárias disponíveis, em especial daqueles presentes no Arquivo Gustavo Capanema. Conforme argumenta, a saída da sociologia das escolas esteve intimamente ligada às disputas em torno de sua cientificidade travadas pelos católicos, fração importante da base de apoio do Estado Novo. Como é possível depreender dos pareceres de intelectuais católicos contrários à permanência da sociologia como disciplina escolar, a crítica apontava para as visões secularistas e anticlericais que aquela ciência poderia veicular. Nesse sentido, razões políticas e ideológicas, e não apenas pragmáticas e operacionais, estiveram na raiz de sua exclusão da grade curricular

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Biografia do Autor

Thiago da Costa Lopes, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Possui graduação em Ciências Sociais (UFRJ) e doutorado em História (PPGHCS/ Fiocruz). Sua tese, publicada na forma de livro (Em busca da comunidade: ciências sociais, desenvolvimento rural e diplomacia cultural nas relações Brasil – EUA), foi agraciada com o Prêmio Capes-Fulbright de 2019. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Nova Iorque e Novo México, nos EUA (2022). Atualmente, atua como pesquisador em estágio pós-doutoral no Departamento de Pesquisa da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz

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Publicado
2024-06-24
Como Citar
Lopes, T. da C. (2024). A sociologia sai da escola. Revista Brasileira De História Da Educação, 24(1), e334. https://doi.org/10.4025/rbhe.v24.2024.e334

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