Uma aluna secundarista contra o Estado Novo em Portugal

Carmina de Santa Clara Pinto Ferreira e seu embate com Alfredo Pimenta sobre o ensino de História em meados da década de 1930

Résumé

Em 1935, no início do Estado Novo em Portugal, na principal instituição formadora de professores do país, a Escola do Magistério Primário de Lisboa, uma aluna secundarista, Carmina de Santa Clara Pinto Ferreira, apresentou conferência na qual defendia um ensino da História em patamares que propiciassem uma visão democrática de mundo. Ela criticou Alfredo Pimenta, historiador ligado ao regime, e foi expulsa dessa escola. É objetivo deste trabalho possibilitar a compreensão de visões de História e, portanto, de sociedade, que conviviam, em meados da década de 1930, com a concepção autoritária de mundo, em implantação crescente pelo Estado Novo. A metodologia utilizada foi a de análise dos poucos textos encontrados sobre o ocorrido. As lacunas documentais foram preenchidas com fontes secundárias, como a imprensa da época e cartas de um dos protagonistas. Isso, em paralelo à pesquisa bibliográfica que deu suporte à compreensão do tema.

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Biographie de l'auteur

Macioniro Celeste Filho, Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP, Brasil

Historiador graduado pela USP (1989), mestre e doutor em Educação pela PUC-SP (2002 e 2006), com estágio de pós-doutorado na Universidade de Lisboa (2017). Docente do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da UNESP, campus de Bauru/SP. Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação, da UNESP de Marília/SP, e de Pós-Graduação em Docência para a Educação Básica, da UNESP de Bauru/SP. Dedica-se à pesquisa na área de História da Educação e de Ensino de História. Membro do GEPCIE, da UNESP de Araraquara/SP.

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Publiée
2025-02-28
Comment citer
Celeste Filho, M. (2025). Uma aluna secundarista contra o Estado Novo em Portugal. Revista Brasileira De História Da Educação, 25(1), e361. https://doi.org/10.4025/rbhe.v25.2025.e361