Hermes, o logos e a educação de um jovem romano: uma análise do Epítome das tradições teológicas dos gregos, Lucius Annaeus Cornutus (Século I d. C.)

  • Edson Arantes Junior Universidade Estadual de Goiás
Palavras-chave: mito; cornutus; estoicismo; educação romana; alegoria

Resumo

Os mitos são narrativas partilhadas que remetem a uma memória cultural. A alegoria foi um dos recursos utilizados para validar seus enredos, o que era muito útil no processo educacional e no processo de transmissão de valores que se desejavam hegemônicos. Um escritor pouco conhecido que fez uso dos mitos foi Lucius Annaeus Cornutus, da família do filósofo estoico Séneca. Em seu livro de mitologia Epítome das tradições teológicas dos gregos, Cornuto apresenta uma função propedêutica e pedagógica, na qual busca ensinar ideias estabelecidas entre os estoicos, por meio da mitologia, ligando os mitos e possíveis etimologias das palavras. Tais epítomes eram muito comuns no Império Romano e tinham como função fornecer informações precisas à aristocracia senatorial e equestre, sendo um manual com ideias presentes nos círculos estoicos romanos. O mito de Hermes será analisado, tendo em vista, os valores culturais cultivados para a formação de um cidadão romano piedoso. Trata-se de um campo fértil à análise historiográfica. Cultuado como deus dos mercadores e dos trapaceiros aqui, é a deidade das palavras, que eleva o homem forte a ocupar os espaços dignos na sociedade. A proposta pedagógica desse escritor vincula a compreensão dos mitos com o entendimento filosófico e as antigas narrativas guardadas na memória greco-romana seriam a fonte de conhecimento ideal para a formação do cidadão romano.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Algra, K. (2006). Teologia estoica. In B. Inwood (Org.), Os estoicos. (p. 171-198, Ferreira, P. F. T. & Fiker, R. Trad.). São Paulo, SP: Odysseus.

Apolodoro. (2002). Biblioteca mitológica (Calderón Felice, J., trad.). Madrid, ES: Akal.

Arantes Junior, E. (2011). Os usos da imagem de Hércules: mito, memória e identidade no mundo romano. Mneme. Revista de Humanidades, 12(30), 53-66.

Arendt, H. (1992). Entre o futuro e o passado (Almeida, M. W. B., Trad.). São Paulo, SP: Perspectiva.

Assmann, J. (2010) La mémoire culturelle: Écriture, souvenir et imaginaire politique dans les civilizations antiques (Meur, D., Trad.). Paris, FR: Aubier.

Bellandi, F. (2003, maggio) Anneo Cornuto nelle Saturae e nella Vita Persi. Gli annei: una famiglia nella storia e nella cultura di Roma Imperiale. In Atti del Convegno internazionale di Milano (p. 185-210). Pavia, Milani, IT.

Brisson, L. (2014). Introdução à filosofia do mito (Baracat Junior, J. C., Trad.). São Paulo, SP: Paulus.

Burkert, W. (1991). Mito e mitologia (Pereira, M. H. R., Trad.). Lisboa, PT: Setenta.

Cassius Dio. (1961). Roman History VIII (Cary, E., trad). London, UK: William Heinemann.

Cornuto. (2009). Repaso de las tradiciones teológicas de los griegos. In Mitógrafos griegos (p. 201-278, Torres Guerra, J. B., Trad). Madrid, ES: Gredos.

Cornutus. (2018). Compendium de Graecae Theologiae Traditionibus (Ed. Torres Guerra, J. B.). Berlin, DE: De Gruyter.

Croiset, M. (1938). Période romaine. In M. Croiset, & A. Croizet, Histoire de La littérature grecque (p. 315-1067, Tome V). Paris, FR: Boccard.

Cugursi, P. (2000, maggio). Lucio Anneo Cornuto esegeta di Virgilio. Gli annei: una famiglia nella storia e nella cultura di Roma Imperiale. In Atti del Convegno internazionale di Milano (p. 211-244). Pavia, Milani, IT.

Dowden, K. & Livingstone, N. (2014). Thinking through myth, thinking myth through. In K. Dowden & N. Livingstone (Eds.), A companion to greek mythology (p. 3-28). Oxford, UK: Blackwell Publishing.

Eliade, M (1981). O mito do eterno retorno (Torres, M., trad). Lisboa, PT: Setenta

Filóstrato. (1999). Vida de los sofistas (Giner Soria, M. C., Trad.). Madrid, ES: Gredos.

Geetz, C (1978). A interpretação das culturas (Wrober, F., Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Ginzburg, C. (2001). Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância (Brandão, E., Trad.). São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Goulet, R. (2005). La méthode allégorique chez stoïciens. In J. B. Gourinant (Éd.), Les stoïciens (p. 93-119). Paris, FR: Librairie philosophique Vrin.

Grimal, P (2005). Dicionário de mitologia grega e romana (Jabouille, V., Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil.

Hankinson, R. J. (2006). Epistemologia estoica. In B. Inwood (Org.), Os estoicos (p. 65-93, Ferreira, P. F. T. & Fiker, R., Trad.). São Paulo, SP: Odysseus.

Hartog, F. (2003). Régimes d’historicité. Paris, FR: Seuil.

Homero. (2010) Ilíada (Lourenço, F., Trad.). Lisboa, PT: Cotóvia.

Jaczynowska, M. (1981). Le Culte de l’Hercule romain au temps du hautempire. Aufstieg Niedergang und Romschen Welt, 2(17), 631-670.

Jaeger, W. W. (2010). Paideia: a formação do homem grego (Pereira, A. M., Trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes.

Lima, L. C. (1989). A aguarrás do tempo. Rio de Janeiro, RJ: Rocco.

Lima, L. C. (2006). História. Ficção. Literatura. São Paulo, SP: Companhia das Letras.

Most, G. W. (1989). Cornutus and stoic allegoresis: A preliminary report'. Aufstieg Niedergang und Romschen Welt, 3(36), 2014-2065.

Pépin, J. (1976). Mythe et allégorie: les origenes grecques et les contestations judéo-chrétiennes. Paris, FR: Études Augustiniennes.

Pereira, M. H. R. (2009). Estudos de história de cultura clássica-cultura romana. Lisboa, PT: Calouste Gulbenkian.

Pià-Comella, J. (2012). De la nature des dieux de Cicéron à l’Abrégé de Cornutus: une nouvelle représentation des élites dans la réflexion théologique ? Camenae, 10, 1-27.

Schilling, R. L. (1979). Rites, cultes, dieux de rome. Paris, FR: Klincksieck.

Suetonius. (1914). Lives of the Caesars: Claudius. Nero. Galba, Otho, and Vitellius. Vespasian. Titus, Domitian. Lives of Illustrious Men: Grammarians and Rhetoricians. Poets (Terence. Virgil. Horace. Tibullus. Persius. Lucan). Lives of Pliny the Elder and Passienus Crispus (2 vols., Rolfe, J. C., Trad). Cambridge, MA: Harvard University Press, 1914.

Torre, C. (2003, maggio). Cornuto, Seneca, i poeti e gli dei. Gli annei: una famiglia nella storia e nella cultura di Roma Imperiale. In Atti del Convegno internazionale di Milano (p. 167-184.). Pavia, Milani, IT.

Torres Guerra, J. B. (2010). Mitos didácticos. El significativo caso de Aneo Cornuto. In E. Borrell Vidal y P. Gómez Cardó (Eds.), Artes ad humanitatem (p. 95-101). Barcelona, ES: Sociedad Española de Estudios Clásicos.

Torres Guerra, J. B. (2016). The Homeric Hymns, Cornutus and the mythographical stream. In A. Faulkner, A. Vergados & A. Schwab (Eds.), The reception of the Homeric Hymns (p. 187-202). Oxford, UK: Oxford University Press.

Vernant, J. P. (1990). Mito e pensamento entre os gregos (Sarian, H., Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.

Vernant, J. P. (1986). ‘Œdipe’ sans complexe. In J. P. Vernant, & P. Vidal-Naquet, Mythe et tragédie en grèce ancienne I (p. 77-98). Paris, FR: Découvert

Wojciechowski, M. (2017, March). Pseudo-Cornutus, his religious physics and the New Testament. Biblica et Patristica Thoruniensia, 10(1), 119-130.

Publicado
2021-08-04
Como Citar
Arantes Junior, E. (2021). Hermes, o logos e a educação de um jovem romano: uma análise do Epítome das tradições teológicas dos gregos, Lucius Annaeus Cornutus (Século I d. C.). Acta Scientiarum. Education, 43, e56780. https://doi.org/10.4025/actascieduc.v43i0.56780
Seção
História e Filosofia da Educação