Zapear: arsenal metodológico para sintonizar políticas de morte e escapes afirmativos em um currículo

Palavras-chave: currículo; diferencia; cartografía; discurso.

Resumo

Esse artigo recupera o arsenal metodológico de uma pesquisa de doutoramento que tomou como objeto de investigação o currículo das narrativas midiáticas seriadas, significando-o como um artefato implicado na ‘pedagogização’ das existências e na delimitação de vidas como vivíveis e como matáveis. O objetivo foi o de evidenciar as políticas de morte e os escapes afirmativos no currículo investigado. Dividido em algumas notas metodológicas, a análise desse artefato foi realizada a partir de uma articulação de diferentes orientações pós-críticas, produzindo uma ‘metodologia-zapping’, fundamentada na análise do discurso de Michel Foucault e na cartografia de Gilles Deleuze e Félix Guattari. No exercício de uma ‘metodologia-zapping’, concluímos que o currículo das narrativas midiáticas seriadas é produzido em meio a tensões, embates e conflitos que lhe constituem como um artefato híbrido, sendo possível conectar um mapa de produção de morte com um mapa dos escapes e afirmação de vida. Isso porque, para além de todas as necropolíticas em jogo, de todos os investimentos de endereçamento da violência e da morte aos sujeitos dissidentes, de todas as tentativas em ora normalizar, ora aniquilar a diferença, também há espaços para resistência. É nesse espaço-entre que o currículo das narrativas midiáticas seriadas demonstra que pode verter sangue, mas também transbordar vida. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Balestrin, P., & Soares, R. (2021). ‘Etnografia de tela’: uma aposta metodológica. In D. E. Meyer, & M. Paraíso, (Orgs.), Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação (p. 87-110). Belo Horizonte, MG: Mazza Edições.

Butler, J. (2017). Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto?. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.

Castellano, M., & Meimaridis, M. (2021). A ‘televisão do futuro’? Netflix, qualidade e neofilia no debate sobre TV. MATRIZes, 15 (1), 195-222. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v15i1p195-222

Chaves, S. (2016). Um currículo para despertar adultos e adormecer crianças. In Chaves, S., Silva, C. A. F., & Brito, M dos R. (Orgs.), Cultura e subjetividade: perspectivas em debate (p. 215-226). São Paulo, SP: Livraria da Física.

Costa, M. V. (2005). Poder, discurso e política cultural: contribuições dos Estudos Culturais ao campo do currículo. In A. C. Lopes, & E. Macedo (Orgs.), Currículo: debates contemporâneos (p. 133-149). São Paulo, SP: Cortez.

Deleuze, G. (2002). A imanência: uma vida... Educação & Realidade, 27(2), 10-18.

Deleuze, G. (2013). Conversações. São Paulo, SP: Editora 34.

Deleuze, G., & Guattari, F. (2011). O anti-édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. São Paulo, SP: Editora 34.

Deleuze, G., & Guattari, F. (2012). Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2 (Vol. 5). São Paulo, SP: Editora 34.

Deleuze, G., & Parnet, C. (1998). Diálogos. São Paulo, SP: Editora Escuta.

Evaristo, C. (2015). Olhos d’água. Rio de Janeiro, RJ: Pallas.

Fischer, R. (2001). Foucault e a análise do discurso em educação. Cadernos de pesquisa, 114(23), 197-223.

Foucault, M. (1995). Sobre a genealogia da ética: uma revisão do trabalho. In P. Rabinow, & H. Rabinow (Orgs.), Foucault: uma trajetória filosófica (para além do estruturalismo e da hermenêutica) (p. 253-278). Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária.

Foucault, M. (1996a). Uma introdução à vida não-fascista. Cadernos de Subjetividade, 1(esp.), 196-200.

Foucault, M. (1996b). A ordem do discurso. São Paulo, SP: Loyola.

Foucault, M. (2003). A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro, RJ: NAU.

Foucault, M. (2004). Foucault. In M. B. Motta (Org.), Ética, sexualidade, política (p. 234-239). Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária.

Foucault, M. (2005). A arqueologia do saber. Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária.

Foucault, M. (2017). Microfísica do poder. Rio de Janeiro, RJ: Paz & Terra.

Guattari, F., & Rolnik, S. (1996). Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis, RJ: Vozes.

Gurgel, E. (2022). O que pode um currículo que verte sangue?: nas entranhas de uma subjetividade zumbi (Tese de Doutorado). Universidade Federal da Bahia, Salvador.

Gurgel, E., & Maknamara, M. (2022). Antologia de um currículo: notas esquizoanalíticas para cartografar narrativas seriadas. Educação & Pesquisa, 1(48), 1-19. DOI: https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248242904por

Gurgel, E., & Maknamara, M. (2022a). Currículo-slasher e dispositivo da catastrofização: nas entranhas de uma subjetividade zumbi. Série-estudos, 27(61), 71-93. DOI: https://doi.org/10.20435/serieestudos.v27i61.1698

Gurgel, E., & Maknamara, M. (2023). Olhos de vidro, ‘black mirrors’: agenciamento biopolítico no currículo das narrativas midiáticas seriadas. Espaço do Currículo, 16(1), 1-17. DOI: https://doi.org/10.15687/rec.v16i1.63538

Hall, S. (1997). A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Educação & Realidade, 22(2), 15-46.

Haraway, D. (1995). Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, 5(1), 7-42.

Kellner, D. (2013). Lendo imagens criticamente: em direção a uma pedagogia pós-moderna. In T. T. Silva (Org.), Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação (p. 101-127). Petrópolis, RJ: Vozes.

Maknamara, M. (2011). Currículo, gênero e nordestinidade: o que ensina o forró eletrônico? (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

Maknamara, M. (2021). Discursos, subjetividades e formação docente: entre culturas da mídia e da memória. Caderno de Letras, 40, 197-208. DOI: https://doi.org/10.15210/cdl.v0i40.20750.

Maknamara, M., & Paraíso, M. (2013). Biopolítica de endereçamentos de gênero no currículo do forró eletrônico. Linhas, 16(30), 180-213. DOI: https://doi.org/10.5965/1984723816302015180.

Meyer, D. E., & Paraíso, M. (2021). Metodologias de pesquisas pós-críticas ou sobre como fazemos nossas investigações. In D. E. Meyer, & M. Paraíso (Orgs.), Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação (p. 17-24). Belo Horizonte, MG: Mazza Edições.

Paraíso, M. (2007). Currículo e mídia educativa brasileira: poder, saber e subjetivação. Chapecó, SC: Argos.

Paraíso, M. (2010a). Currículo e formação profissional em lazer. In H. F. Isayama (Org.), Lazer em Estudo (p. 27-58). Campinas, SP: Papirus.

Paraíso, M. (2010b). Diferença no currículo. Cadernos de Pesquisa, 40(140), 587-604. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-15742010000200014

Paraíso, M. (2018). Fazer do caos uma estrela dançarina no currículo: invenção política com gênero e sexualidade em tempos do slogan ‘ideologia do gênero’. In M. Paraíso, & M. C. C. S. Caldeira (Orgs.), Pesquisas sobre currículos, gêneros e sexualidades (p. 23-52). Belo Horizonte, MG: Mazza EdiçõesParaíso, M. (2019). Uma vida de professora que forma professoras/es e trabalha para o alargamento do possível no currículo. Curitiba, PR: Brazil Publishing.

Paraíso, M. (2021). Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação e currículo: trajetórias, pressupostos, procedimentos e estratégias analíticas. In D. E. Meyer, & M. Paraíso, M. (Orgs.), Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação (p. 25-47). Belo Horizonte, MG: Mazza Edições.

Paraíso, M., & Caldeira, M. C. C. S. (2018). Pesquisas sobre currículos, gêneros e sexualidades. Belo Horizonte, MG: Mazza Edições.

Paraíso, M. (2019). Uma vida de professora que forma professoras/es e trabalha para o alargamento do possível no currículo. Curitiba, PR: Brazil Publishing.

Pelbart, P. P. (2017, 9 de janeiro). Peter Pal Pelbart: ‘estamos em guerra’. Outras palavras. Recuperado de: https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/peter-pal-pelbart-estamos-em-guerra/

Pinheiro, C. M. P. (2021). Perspectivas sobre serialização e ludemas em jogos digitais. In M.C. Souza, & L. Alves (Orgs.), Narrativas seriadas: ficções televisivas, games e transmídia (p. 45-62). Salvador, BA: EDUFBA.

Preciado, P. (2020). Um apartamento em Urano: crônicas da travessia. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.

Puar, J. (2005). Queer times, queer assemblages. Social Text, 23(3-4), 84-85.

Sales, S. R. (2021). Etnografia+netnografia+análise do discurso: articulações metodológicas para pesquisar em Educação. In D. E. Meyer, & M. PARAÍSO (Orgs.), Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação (p. 111-132). Belo Horizonte, MG: Mazza Edições.

Sarlo, B. (1997). Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte e vídeo-cultura na Argentina. Rio de Janeiro, RJ: Editora UFRJ.

Silva, T. (2010). O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. Belo Horizonte, MG: Autêntica.

Simon, R. (2013). A pedagogia como uma tecnologia cultural. In T. T. Silva (Org.), Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação (p. 61-82). Petrópolis, RJ: Vozes.

Marvin, L. (Criador), & Wankum, B. (Produtor). (2021). Them [Streaming: Série]. Estados Unidos: Amazon.

Schwartz, J. (Criador), & McG (Produtor). (2003-2007). The OC [DVD: Série]. Estados Unidos: WB.

Chase, D. (Criador), & Bruestle, M. (Produtor). (1999-2007). The Sopranos [DVD: Série]. Estados Unidos: HBO.

Veiga-Neto, A. (2006). Na oficina de Foucault. In W. O. Kohan, & J. Gondra (Orgs.), Foucault 80 Anos (p. 79-91). Belo Horizonte, MG: Autêntica.

Publicado
2023-08-10
Como Citar
Gurgel, E., & Maknamara, M. (2023). Zapear: arsenal metodológico para sintonizar políticas de morte e escapes afirmativos em um currículo. Acta Scientiarum. Education, 45(1), e65614. https://doi.org/10.4025/actascieduc.v45i1.65614
Seção
Chamada Temática - Metodologias de Pesquisas Pós-Críticas: fraturas, aberturas e