Ensinar a esquecer – ensino de história e extrema direita
Resumo
O artigo visa a analisar como a extrema direita vem buscando transformar o ensino de história, deslocando-o da historiografia academicamente aceita para narrativas gloriosas no formato de um romance nacional (Citron, 2017). A investigação apoia-se em um quadro teórico construído com a contribuição de diversos autores, com destaque para Cesarino (2022), Nunes (2022), Pelbart (2019), Traverso (2021), Stanley (2020). Após apresentar um panorama da ascensão da extrema direita no Brasil e no mundo, analisa-se documentos da extrema direita francesa e estadunidense que propõem mudanças no ensino de história. A seguir, discutimos as produções da Brasil Paralelo na forma de história pública e tensionamos essa versão a partir de um estudo etnográfico da cultura escolar. O artigo mostra aproximações entre as formas historiográficas e métodos de divulgação das propostas pela extrema direita nos três países, mas também indica alguns afastamentos.
Downloads
Referências
Alfonseca, K. (2023, 20 de janeiro). What does 'woke' mean and why are some conservatives using it? ABC News. Recuperado de https://abcnews.go.com/Politics/woke-conservatives/story?id=93051138
Barzotto, C. E., & Seffner, F. (2020). Escola sem partido e sem gênero: redefinição das fronteiras público e privado na educação. Revista da FAEEBA - Educação e Contemporaneidade, 29(58), 150-167. DOI: https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2020.v29.n58.p150-167
Bermúdez, A. (2023, 22 de fevereiro). As escolas na Flórida em que professores são obrigados a esconder livros dos alunos. BBC News Brasil. Recuperado de https://www.bbc.com/portuguese/articles/czq080gx4e2o
Bolsonaro, J. (2018). O caminho da prosperidade: proposta de plano de governo. Recuperado de https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2018/BR/BR/2022802018/280000614517/proposta_1534284632231.pdf
Bolsonaro, J. (2022). Pelo bem do Brasil: plano de Governo 2023-2026. Recuperado de https://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidaturas/oficial/2022/BR/BR/544/candidatos/908966/5_1660093698051.pdf
Brown, W. (2019). Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no Ocidente. São Paulo, SP: Politeia.
Carmo, W. (2023, 8 de abril). Partido português convida Bolsonaro para encontro da direita mundial. Carta Capital. Recuperado de https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/partido-portugues-convida-bolsonaro-para-encontro-da-direita-mundial/
Carvalho, D. (2019, 25 de junho). Por que as pessoas acreditam em fake news, segundo a psicologia social. Política na cabeça. Recuperado de https://www.blogs.unicamp.br/politicanacabeca/2019/06/25/fake-news-por-que-as-pessoas-acreditam-em-noticias-falsas-segundo-a-psicologia-social/
Casara, R. (2021). Contra a miséria neoliberal. São Paulo, SP: Autonomia Literária.
Cesarino, L. (2022). O mundo do avesso: verdade e política na era digital. São Paulo, SP: Ubu.
Chafuen, A. (2021, 30 de março). The 2021 ranking of free-market think tanks measured by social media impact. Forbes. Recuperado de https://www.forbes.com/sites/alejandrochafuen/2021/03/30/the-2021-ranking-of-free-market-think-tanks-measured-by-social-media-impact/?sh=387afbc677f6&utm_medium=sobre
Citron, S. (2017). Le mythe national: l'histoire de France revisitée. Paris, FR: L’atelier.
Crowley, M., & Schuessler, J. (2021, 18 de janeiro). Trump’s 1776 commission critiques liberalism in report derided by historians. The New York Times. Recuperado de https://www.nytimes.com/2021/01/18/us/politics/trump-1776-commission-report.html
Empoli, G. (2021). Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. Belo Horizonte, MG: Vestígio.
Foucault, M. (2003). A vida dos homens infames. In M. Foucault (Ed.), Ditos e escritos IV: Estratégia, poder-saber (p. 203-222). Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária.
Garcia, J. D. A., Lazarini, A. Q., Barbieri, A. F., & Mello, R. A. (2017). A origem da escola pública no século XIX: contraposição ou coerência com as necessidades do capital? Revista Tempos e Espaços em Educação, 10(21), 177-190. DOI: https://doi.org/10.20952/revtee.v10i21.6341
Gonzalez, D. B. (2022). “A solução para o Brasil é dar um pouco de Brasil para as pessoas”: a construção do inimigo na produção da Brasil paralelo (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Educação e Estudos Culturais, Universidade Luterana do Brasil, Canoas.
Granjeia, J., & Almeida, R. (2023, 31 de janeiro). Por dentro da máquina do Brasil Paralelo para dominar as buscas no Google. Núcleo. Recuperado de https://nucleo.jor.br/especiais/2023-01-31-a-maquina-do-brasil-paralelo/
Han, B.-C. (2012). Sociedade da transparência. Petrópolis, RJ: Vozes.
Hunter, J. D. (1991). Culture wars: the struggle to define America. Nova York, NY: Basic Books.
Lazzarato, M. (2019). Fascismo ou revolução?: O neoliberalismo em chave estratégica. São Paulo, SP: n-1 Edições.
Le Pen, M. (2017, 8 de abril). “Notre école sera l’école qui fera acquérir à nos enfants, outre les savoirs élémentaires, la connaissance du roman national.” #AjaccioMLP [Tweet]. Twitter. Recuperado de https://twitter.com/mlp_officiel/status/850709439879540736
Le Pen, M. (2022). L’école. Recuperado de https://mlafrance.fr/pdfs/projet-l-ecole.pdf
Morin, V. (2022, 22 de abril). Pour les enseignants d’histoire, Marine Le Pen fait revivre le spectre du «roman national». Le Monde. Recuperado de https://www.lemonde.fr/election-presidentielle-2022/article/2022/04/22/presidentielle-2022-pour-les-enseignants-d-histoire-marine-le-pen-fait-revivre-le-spectre-du-roman-national_6123229_6059010.html
Nicolazzi, F. (2022). Brasil Paralelo: restaurando a pátria, resgatando a história. A independência entre memórias públicas e usos do passado. In T. Cravo, & W. P. Costa (Orgs.), Independência: memória e historiografia (p. 73-93). São Paulo, SP: Edições Sesc.
Nunes, R. (2022). Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um mundo em transição. São Paulo, SP: Ubu.
NYTimes. (2019, 14 de agosto). The 1619 project. The New York Times. Recuperadode https://www.nytimes.com/interactive/2019/08/14/magazine/1619-america-slavery.html
Oreskes, N., & Conway, E. M. (2010). Merchants of doubt: how a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to climate change. Londres, GB: Bloomsbury.
Pelbart, P. P. (2019). Ensaios do assombro. São Paulo, SP: n-1 Edições.
Pereira, N. M., & Seffner, F. (2008). O que pode o ensino de história? Sobre o uso de fontes na sala de aula. Anos 90, 15(28), 113-128. DOI: https://doi.org/10.22456/1983-201X.7961
Por que chamam a Brasil Paralelo de Netflix da Direita? (2022, 26 de agosto). Brasil Paralelo. Recuperado de https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/brasil-paralelo-netflix-direita
PragerU. (n.d.). What is PragerU? Recuperado de https://www.prageru.com/about
Racine. (2013, 2 de maio). Appel pour le redressement de l’Ecole. Recuperado de http://www.collectifracine.fr/?p=38
Santos, B. S. (2020, 29 de setembro). A ascensão do conservadorismo e a educação como alvo de ataque preferencial. Ópera Mundi: Diálogos do Sul. Recuperado de https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/cultura/66896/boaventura-a-ascensao-do-conservadorismo-e-a-educacao-como-alvo-de-ataque-preferencial
Santos, B. S., & Avritzer, L. (2009). Introdução: para ampliar o cânone democrático. In B. S. Santos (Org.), Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa (4 ed., p. 39-82). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.
Saraiva, K., & Zago, L. F. (2021). Economia, saúde e políticas do verdadeiro nas declarações de Bolsonaro durante a pandemia de COVID-19 no Brasil. Ámbitos - Revista Internacional de Comunicación, (52), 124-139. DOI: https://doi.org/10.12795/Ambitos.2021.i52.08
Sauvêtre, P., Laval, C., Guéguen, H., & Dardot, P. (2021). A escolha da guerra civil. São Paulo, SP: Elefante.
Seffner, F. (2017). Ocupar é viver a escola. In A. D. Cattani (Org.), Escolas ocupadas (p. 13-40). Porto Alegre, RS: CirKula.
Seffner, F. (2020a). Cultura escolar e questões em gênero e sexualidade: o delicado equilíbrio entre cumprir, transgredir e resistir. Retratos da Escola, 14(28), 75-90. DOI: https://doi.org/10.22420/rde.v14i28.1095
Seffner, F. (2020b). Sempre atrás de um buraco tem um olho: racionalidade neoliberal, autoritarismo fundamentalista, gênero e sexualidade na Educação Básica. Práxis Educativa, 15, 1-19. DOI: https://doi.org/10.5212/PraxEduc.v.15.15010.045
Seipel, B. (2020, 7 de março). Trump: children are taught in school to ‘hate their own country’. The Hill. Recuperado de https://thehill.com/homenews/administration/505841-trump-children-are-taught-in-school-to-hate-their-own-country/
Stanley, J. (2020). Como funciona o fascismo: a política do “nós” e “eles”. Porto Alegre, RS: L&PM.
Sulzer, A. (2023, 20 de abril). Pourquoi le Rassemblement national s’attaque au wokisme. Le Parisien. Recuperado de https://www.leparisien.fr/politique/pourquoi-le-rassemblement-national-sattaque-au-wokisme-20-04-2023-M4YUG4EQHFCHLPYYR2WWTVT26M.php
Traverso, E. (2021). As novas faces do fascismo: populismo e a extrema direita. Belo Horizonte, MG: Âyiné.
USA. The President's Advisory 1776 Commission. (2021). The 1776 report. Recuperado de https://trumpwhitehouse.archives.gov/wp-content/uploads/2021/01/The-Presidents-Advisory-1776-Commission-Final-Report.pdf
Zemmour, E. (2022a, 6 de outubro). Wokisme et islamisme, l’école prise en tenaille. Le Figaro. Recuperado de https://www.lefigaro.fr/vox/societe/eric-zemmour-wokisme-et-islamisme-l-ecole-prise-en-tenaille-20221006
Zemmour, E. (2022b, 2 de janeiro). Oui, je veux refaire le roman national à l'école, faire aimer la France par son Histoire comme on me l’a faite aimer. Les manuels scolaires sont un tissu de propagande anti-française [Tweet]. Twitter. Recuperado de https://twitter.com/zemmourtv/status/1477588016759820293
Zemmour, E. (2022c). Retrouver l’excellence de l’école française. Recuperado de https://programme.ericzemmour.fr/ecole
DECLARAÇÃO DE ORIGINALIDADE E DIREITOS AUTORAIS
Declaro que o presente artigo é original, não tendo sido submetido à publicação em qualquer outro periódico nacional ou internacional, quer seja em parte ou em sua totalidade.
Os direitos autorais pertencem exclusivamente aos autores. Os direitos de licenciamento utilizados pelo periódico é a licença Creative Commons Attribution 4.0 (CC BY 4.0): são permitidos o compartilhamento (cópia e distribuição do material em qualquer suporte ou formato) e adaptação (remix, transformação e criação de material a partir do conteúdo assim licenciado para quaisquer fins, inclusive comerciais).
Recomenda-se a leitura desse link para maiores informações sobre o tema: fornecimento de créditos e referências de forma correta, entre outros detalhes cruciais para uso adequado do material licenciado.