Eficiência pedagógica e o projeto desenvolvimentista brasileiro: fundamentos de uma ‘neodocência’ no ensino secundário
Resumo
Este artigo problematiza a relação entre o projeto desenvolvimentista brasileiro, dimensionado para o país nas décadas de 1950 e 1960, e o ensino secundário, a partir do ideário de modernização orientado para o progresso social e econômico, com ênfase na escola e na docência como elementos capazes de viabilizar as mudanças pretendidas, conforme os preceitos da teoria do Capital Humano. Para isto, a metodologia utilizada envolveu a análise documental, de acordo com os pressupostos de Cellard (2008), tendo como princípios metodológico-interpretativos as teorizações de Popkewitz (1997), envolvendo a ‘epistemologia social’. Com base nestes apontamentos, foram analisados três materiais impressos destinados aos docentes do ensino secundário: revista ‘Escola Secundária’, publicada entre 1958 e 1963, e os livros ‘Manual do professor Secundário’, de Theobaldo Miranda Santos, publicado em 1961 e ‘Escola Secundária Moderna’, de Lauro de Oliveira Lima, publicado em 1962. Os resultados da pesquisa indicam a emergência de novas racionalidades para a docência do ensino secundário no Brasil, denominadas de ‘neodocência’, pautadas pelos imperativos de desenvolvimento econômico, seguindo os moldes empresariais de performatividade, competitividade e inovação permanente. Tais configurações, derivadas da perspectiva economicista neoliberal, posicionam o professor como facilitador da aprendizagem, com base no ideal de modernização e renovação do ensino, orientado para a eficiência pedagógica.
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