Narrações para a fascistização da infância no livro ‘O Brasil É Bom’ (1938): Pinocchiate à brasileira?

Palavras-chave: fascismo; infância; literatura; educação; ditadura.

Resumo

O objetivo do estudo é analisar o teor do livro O Brasil é Bom, edição de 1938 do Departamento Nacional de Propaganda (D.N.P.). A metodologia está embasada na Análise de Conteúdo, aplicada em conjugação com referenciais teórico-metodológicos dedicados à investigação sobre o fascismo e a aspectos da produção literária destinada à infância. Os resultados evidenciam similaridades entre a textualidade d’O Brasil é bom, gerado como ferramenta de propaganda no contexto da ditadura do Estado Novo, e as pinocchiate produzidas no ambiente do fascismo italiano. Verifica-se que se as tramas em que o boneco Pinóquio foi envolvido em nome da propaganda fascista são recheadas de mensagens para a infância italiana, que apelam para um embasamento amalgamado por violências e preconceitos de diversos tipos em relação aos inimigos do regime mussoliniano, em diversas das seções do livro brasileiro examinado se compreende que os conceitos, as explicações, assim como os alertas e as ordens em relação aos fundamentos da ação humana sugeridos ao menino brasileiro são constituídas por narrações igualmente fascistizantes.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Amparo, P. A. (2023). No palimpseto da sala de aula: a legitimação de obras literárias em disputa na escola. Educação e Pesquisa, 49, 1-20, DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1678-4634202349247334por

Badanelli, A., & Cigales, M. (2020). Questões metodológicas em manualística. Revista Brasileira de História da Educação, 20. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v20.2020.e096

Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa, PT: Edições 70.

Bellatalla, L. (2010). Insegnanti sotto tutela: guide didattiche e manuali per la scuola del ventennio. In G. Genovesi (a cura di). C’ero anch’io! A scuola nel Ventennio. Ricordi e riflessioni (p. 133-156). Napoli, IT: Liguori Editore.

Carneiro, M. L. T.(1999). O Estado Novo, o DOPS e a ideologia da segurança nacional. In D. Pandolfi (Org.), Repensando o Estado Novo (p. 326-340). Rio de Janeiro, RJ: Fundação Getúlio Vargas.

Carsten, F. L. (2008). I movimenti fascisti. In R. De Felice. Il fascismo: Le interpretazioni dei contemporanei e delgi storici (p. 689-697). Roma-Bari, IT: Editori Laterza.

Collodi, C. (2011). As aventuras de Pinóquio: história de um boneco. São Paulo, SP: Cosac Naify.

Curreri, L. (2008). Pinocchio in camicia nera. Quattro “pinocchiate” fasciste. Cuneo, IT: Nerosubianco Editori.

Departamento Nacional de Propaganda [D.N.P.]. (1938). O Brasil é Bom. Rio de Janeiro, RJ: Officina Graphica Mauá.

Fascismo III – O Império e as raças. (2023). 1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos. Recuperado de https://declaracao1948.com.br/2023/06/05/fascismo-o-imperio-e-as-racas/

Fiori, L. (1932). Il grande nocchiero. Firenzi, IT: Tipografia Fratelli Parenti di G..

Gomes, A. C. (1999). Ideologia e trabalho no Estado Novo. In D. Pandolfi (Org.), Repensando o Estado Novo (p. 53-72). Rio de Janeiro, RJ: Fundação Getúlio Vargas.

Konder, L. (2009). Introdução ao fascismo. São Paulo, SP: Expressão Popular.

Meira, V. (2018). Educação como um processo de humanização ou de “fantochização”: reflexões pedagógicas a partir da história de Pinóquio. Teoliterária, 8(16), 390-422. DOI: https://doi.org/10.19143/2236-9937.2018v8n16p390-422

Netto, H. S. P. (2019). Fatta l’italia, bisogna fare l’italiano. Carlo Lorenzini, pseudônimo Collodi: Patriotismo, humor e desencanto (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Netto, H. S. P. (2022). Literatura para infância e autoritarismo. As versões fascistas de Pinóquio. In Anais do V Encontro Discente de História da UFRGS (p. 313-320), Porto Alegre, RS: UFRGS.

Oliveira, G. M. (2021). Anticomunismo. In L. E. Oliveira, & J. E. Franco (Org.), Dicionário dos Antis: A cultura brasileira em negativo (p. 145-152). Campinas, SP: Pontes Editores.

Paulo, H. (1994). Estado novo e propaganda em Portugal e no Brasil: O SPN/SNI e o DIP. Coimbra, PT: Livraria Minerva.

Peixoto, A. V. A. (1960). Getúlio Vargas, meu Pai. Porto Alegre, RS: Globo.

Rosa, C. S. (2009). Pequenos soldados do Fascismo: a educação militar durante o governo de Mussolini. Antíteses, 2(4), 621-648. DOI: https://doi.org/10.5433/1984-3356.2009v2n4p621

Santos, A. V. (2010). Lo Stato Nuovo brasiliano (1937-1945) e la formazione scolastica dell’infanzia: il fascismo “goccia a goccia”. History of Education & Children’s Literature, 1, 315-336.

Santos, A. V. (2012). Educação e fascismo no Brasil: a formação escolar da infância e o Estado Novo (1937-1945). Revista Portuguesa de Educação, 25(1), 137-163. DOI: https://doi.org/10.21814/rpe.3019

Santos, A. V. (2014). Escritos sob os regimes políticos de Vargas e Mussolini: para uma fascistização da infância? Revista Brasileira de História da Educação, 14(34), 165-193. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v14i1.508

Schwartzman, S. (Org.). (1983). Estado Novo, um Auto-retrato. Brasília, DF: CPDOC/FGV; Universidade de Brasília.

Soares, L. F. (2015). Por uma teoria da literatura infantil: o caso Peter Hunt. Caletroscópio, 3(4), 23-36.

Stoppino, M. (1998). Ditadura. In N. Bobbio, N. Matteucci, & G Pasquino. Dicionário de política (p. 368-379). Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília.

Trento, A. (2005). “Dovunque è um italiano, là è il tricolore”. La penetrazione del fascismo tra gli immigrati in Brasile. In E. Scarzanella (a cura di). Fascisti in Sud America (p. 1-54). Fireze, IT: Casa Editrice Le Lettere.

Publicado
2024-06-19
Como Citar
Santos, A. V. dos. (2024). Narrações para a fascistização da infância no livro ‘O Brasil É Bom’ (1938): Pinocchiate à brasileira?. Acta Scientiarum. Education, 46(1), e69121. https://doi.org/10.4025/actascieduc.v46i1.69121
Seção
Chamada Temática - Infâncias e Educação em tempos de ditaduras