A reforma do Ensino Médio e as desigualdades educacionais

Palavras-chave: Novo Ensino Médio; juventudes; desigualdade; política educacional.

Resumo

A preocupação com as desigualdades educacionais se intensifica com a reforma do Ensino Médio. O que se popularizou como ‘Novo Ensino Médio’ tem seu início em 2016 com a Medida Provisória nº 746/2016, convertida na Lei nº 13.415 de 2017, e preconiza mudanças curriculares com a ideia de flexibilização: instituição de itinerários formativos (parte diversificada do currículo). As aprendizagens essenciais, comuns aos entes federativos, ficam determinadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da etapa final da Educação Básica. As críticas em torno da legislação e os pedidos de revogação da reforma, desde que Lula assume o seu terceiro mandato (2023-2027), congregam a insatisfação de diversos sujeitos (estudantes, docentes, associações, entre outros) com o que seria um aprofundamento abissal das impossibilidades para as juventudes da rede pública, diante de determinações que desconsideram as diversas realidades. O Ministério da Educação estabelece consultas públicas para a reestruturação da política e congela o calendário de implementação da reforma. Foi produzido um relatório executivo e uma nova proposta foi sancionada pela presidência, a qual prevê a ampliação da carga horária para a formação geral básica e a redução para itinerários formativos. Assim, objetivando analisar possíveis efeitos da política educacional na questão das desigualdades no acesso e permanência na Educação Superior no Brasil, realiza-se esta pesquisa de natureza qualitativa e abordagem exploratória. O percurso metodológico se dá por meio de levantamento bibliográfico de artigos científicos (2020-2022) e documental (Plano Nacional de Educação – 2014/2024, BNCC e Lei nº 13.415/2017). Vê-se que o plano traçado pode ser considerado comprometido, com tantas metas não alcançadas, e o novo deverá lidar com desafios de uma desigualdade complexa que aflige parte das juventudes, já que a política educacional pode agravar barreiras históricas, afetando o acesso e permanência dessas juventudes da rede pública na Educação Superior.

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Biografia do Autor

Aryanne Mila de Barros, Universidade Federal de Mato Grosso

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGE/UFMT).

Renata Teixeira Nascimento, Universidade Federal de Mato Grosso

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGE/UFMT).

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Publicado
2025-10-28
Como Citar
Barros, A. M. de, Nascimento, R. T., & Casagrande, A. L. (2025). A reforma do Ensino Médio e as desigualdades educacionais. Acta Scientiarum. Education, 47(1), e73475. https://doi.org/10.4025/actascieduc.v47i1.73475
Seção
Formação de Professores e Políticas Públicas