Povoada com linhas, uma pesquisa dança em educação
Resumo
As linhas de escrita que aqui se desenrolam e se tramam são desdobramentos e reverberações das invenções produzidas ao longo de uma pesquisa de mestrado em educação. Trabalha-se com a noção de criação estabelecida por Gilles Deleuze, sozinho e também em sua parceria com Félix Guattari, para construir possibilidades de trabalho no domínio específico da educação. Para isso, articula-se a proposição sobre linhas destes dois autores com a breve história das linhas traçada por Tim Ingold. Tanto Deleuze e Guattari como Ingold retomam, em seus escritos, a noção de Paul Klee de que, na criação, falta um povo. Eis, portanto, um pensamento que povoa, um povoamento. Entre os movimentos de pesquisa, vemos sensações de uma dança criando corpo, vemos uma pesquisa dançar. Este é o método que encontramos para desenvolvermos um modo singular de fazer pesquisa em educação, um modo que emerge pelas estruturas da grande pesquisa e ao longo dela, pelo meio, produzindo rachaduras, brechas, fissuras. Trata-se, portanto, de uma exceção à grande linguagem, à moral generalizada. Variamos Barthes para pensarmos singularidades de uma pesquisa que dança, e variamos Kuniichi Uno para pensarmos uma esfera anterior à da separação de sujeito e objeto, de forma e conteúdo, de corpo e pensamento. Sem hierarquias entre as diferentes matérias com as quais trabalhamos, produzimos no entrecruzamento das artes, filosofias e ciências lógicas. Uma pesquisa que se faz no encontro entre corpos. Aliás, uma pesquisa com mais encontros e menos explicações, ao modo do filme Bom Trabalho, de Claire Denis, uma das matérias que dançam com as linhas desta pesquisa. Um método cartográfico? Talvez mais coreográfico… eis uma pesquisa-dança
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Referências
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