Artefatos midiáticos e pedagogias culturais: uma discussão sobre os arbitrários culturais do jornal O Tibagi (1948-1954)
Resumo
Artefatos midiáticos desempenham um importante papel educativo ao construir e difundir representações que atuam na constituição do habitus do público. No caso dos jornais, os arbitrários culturais presentes em suas publicações possuem a capacidade de influenciar a constituição identitária e subjetiva de seus leitores. Dado seu potencial educativo, é fundamental compreender como a relação entre jornalismo e educação tem se constituído em diferentes tempos históricos e sociais. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo identificar as características da pedagogia cultural praticada por O Tibagi na cidade-empresa de Monte Alegre - PR, observando seus aspectos elementares, posição no espaço social e formas culturais arbitrárias valorizadas pelo jornal. Para tanto, foram analisadas as edições comemorativas do jornal entre os anos de 1948 e 1954, com destaque para os expedientes e colaboradores, anunciantes e temáticas recorrentes de publicação. Com base no referencial teórico de Pierre Bourdieu, a análise das fontes evidenciou que as publicações comemorativas de O Tibagi foram marcadas pela predominância de anúncios e conteúdo literário, enquanto outras expressões culturais e temas eram preteridos - formando seus leitores tanto pelo que comunicava explicitamente, quanto pelos silenciamentos em suas publicações. Ao omitir temas sensíveis, como segurança e questões trabalhistas, o jornal difundiu uma visão idealizada de Monte Alegre, promovendo uma pedagogia cultural que favoreceu a lógica empresarial e contribuiu para a manutenção da ‘harmonia’ local. A pesquisa sobre O Tibagi demonstra que jornais atuam como agentes pedagógicos, influenciando habitus e disposições ao selecionar, destacar ou omitir conteúdos.
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